... das coisas
Verde das coisas
Julho acaba e partimos para o Minho, Viana do Castelo. Vamos todos em dois carros: seis crianças, um cão e a bicicleta. A casa de pedra espera, o milho cresceu à altura de gente, as latadas de vinha fazem sombra na pedra.
O Minho é exuberante e é-o na forma como se faz verde entre a chuva, o nevoeiro e o frio.
Julho acaba e partimos para o Minho, Viana do Castelo. Vamos todos em dois carros: seis crianças, um cão e a bicicleta. A casa de pedra espera, o milho cresceu à altura de gente, as latadas de vinha fazem sombra na pedra.
O Minho é exuberante e é-o na forma como se faz verde entre a chuva, o nevoeiro e o frio.
Silêncio das coisas
Esta, é para o Nuno Vargas
A casa é de pedra antiga, das pedras que foram outrora as pedras da aldeia que morreu na pneumónica do princípio do século XX, tem uma latada de vinha tão antiga quanto ela a qual faz a sombra de Julho. O tempo está quente. A mesa fica à porta da cozinha e quase toda a vida se senta por ali.
Ao entardecer ouve-se a Avé Maria do auto-falante da igreja e o ladrar dos cães da freguesia. Fumo ali o último cigarro da noite, ouço os grilos e o silêncio profano da terra. Às vezes fico quieta de pensamento, outras fico quieta de nada. Às vezes cai um limão ao chão e na noite, aquela é toda a gravidade do mundo.
Junto á porta da cozinha existem dois limoeiros e uma macieira. A fruta exala um perfume doce. O silêncio ás vezes é vagar e perfume outras, um tédio quase triste.
Alegria das coisas
Para a Vera, Rita, André, Filipe, Teresa e Isabel
A mim o mundo parece-me pequeno e confinado aos muros de pedra. A eles, o mundo cresce infinito nos esconderijos que criam, na tenda que montam e na rede onde descansam das histórias. Vivem os dias na rua, descalços, fantasiosos, cheios de histórias e mistérios para desvendar. Para eles ali se fazem mundos e em bando se vive a alegria fácil e quente do verão.
Um dia, suspeito, a memória terá cheiro de limoeiro e aventura.
Vagar das coisas
Dormimos muito e até tarde. Escolho repetidamente aquele lugar do mundo pequeno para deixar o descanso entrar em mim até ao osso. Como uma brisa que se faz devagar. Depois faço-lhes limonadas, bolos e doce de fruta que caiu ao chão. Leio, leio muito.
“Baía dos Tigres” de Pedro Rosa Mendes. Fantástico. Muito, muito bom. Já me tinham falado e eu sem o saber nas estantes cá de casa.
“ Já não me lembrava – os delírios da K” do Carlos Quevedo, em jeito solto e aleatório.
“A matemática das coisas” do Nuno Crato. Que saudades tinha de quem me falasse assim da matemática... o Nuno é um excelente comunicador e consegue, como muito poucos, falar com rigor de coisas complicadas em jeito acessível e bonito. Um homem de linguagens. Passo sempre os olhos pelas crónicas semanais do Expresso mas assim concentrado, em livro de capa sabe muito, muito melhor. Leitura gostosa a quem roubei parte do título deste post numa equação de pequenos prazeres.
Mas à quem se levante cedo, muito cedo, vá deixar as ovelhas ao campo e parta depois de bicicleta. Pelos montes áridos desde Viana até Vila Praia de Âncora, lá pela terra dos garranos livres, e desça até ao mar. O milho cresce quase até à areia, fronteira o mar.
Dizer das coisas
Viemos a casa lavar a roupa que trás terra, cheiro a limão e silêncio. Não tarda partimos. Para um lugar que não sabemos, longe do mar. Ainda não chegou o tempo do mar salgado.
5 Comments:
É o meu pecado deste Verão: adiar o Minho.
quis ficar lá, nesse silêncio profano
A tua escrita.
:)
(levei esse livro do P.R. Mendes nas férias do ano passado. acabei por não o ler. um pequeno pecadilho, eu sei. um dia destes há-de ser.)
beijos
Este comentário foi removido pelo autor.
O rural das vidas, onde vivo inacabado. Os limões caídos são avisos de gin tónico, mas mensagens de amigos, percebes isso. A minha Baía dos Tigres está lida desde 2008, após prémio de ficção do PEN clube.
- Porque me limpas os olhos?
- Porque gosto de ti. Agora vou ao Chingar, beber. Vens comigo?
- Vou.
- Que tempo tens?
- Nenhum.
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