Repetições a preto e branco
Comboios
Vão cheios, ronceiros, atravessam Agosto, o país e o tempo. Levam-nos o medo, a mochila, a expectativa. Fazem rodagem desde a infância, banco corrido de pau, pouso de janela encosto de cabeça e de amor. Há histórias na nossa vida, na vida de quem fez e faz campos de férias, que começam nos comboios. Não era uma vez, era um comboio na linha número 2 com destino a …
Era um comboio que me levou, mais uma vez passados muitos, a um campo de férias.
Campos de Férias
Voltamos um dia porque prometemos. Encontramos os mesmos cheiros de hortelã e tendas vazias, o mesmo sabor de pão com marmelada e leite com chocolate, cantamos as mesmas canções e outras.
Lembramos como a noite se agiganta e fere a pele, na saudade, na dor, no parêntesis por resolver em nós e eles pequenos sentem igualmente isso a que chamam unicamente saudade. Estamos lá para quietar, para sussurrar que crescer também dói e que o mundo infinito os espera para além da curva da estrada da casa vermelha, para além da vinha, depois do fim. Sabemos mais, muito mais e podemos dizer-lhe isto sem o nomear, dizer no jeito como fazemos o colo e o sossego. Eles têm o tempo, nós o saber do tempo usado.
Lembramos como a terra se mistura na alegria e nas mãos, como ser porco não é ser sujo, como a água fria da nascente bate no corpo e magoa, como o calor desconforta e como os tanques tem musgo escuro no fundo.
Lembramos como caminhamos juntos, como passamos a salto fronteiras por riscar, como se está em Espanha a três passos do acampamento, como se pode arder com 40º graus se pusermos o nariz junto às nuvens e dessa forma se estar em França. Nunca as palavras tiveram o sabor que tem nessas caminhadas serranas, nunca a cumplicidade foi tão fácil como nesses kms de caminhar.
Voltamos um dia porque sempre estivemos, voltamos porque apenas nos predispomos a que outros, pequenos, possam saber aquilo que também nós soubemos e que hoje, achamos bonito, sólido e memorável. Damos com o sossego aquilo que nos deram na inquietação.
E mesmo nós, grandes, crescidos e sabidos, temos reservado um assombro novo na curva da estrada da casa vermelha, nas noites em que se ouvem grilos, nas sombras feitas na tenda grande e azul. Partimos para dar mas viemos imensos.
Comboios
Santa Apolónia, em tardes de Agosto, tem uma luz inigualável que vem do rio e se derrama entre as linhas, entre os abraços, entre o adeus. Santa Apolónia faz-se de um estranho silêncio dos tempos, bonito de luz, onde nos falam os que partiram e onde nos encontramos os de sempre.
Não há fim tão bonito como o abandono da luz em Santa Apolónia. Agosto.
Vão cheios, ronceiros, atravessam Agosto, o país e o tempo. Levam-nos o medo, a mochila, a expectativa. Fazem rodagem desde a infância, banco corrido de pau, pouso de janela encosto de cabeça e de amor. Há histórias na nossa vida, na vida de quem fez e faz campos de férias, que começam nos comboios. Não era uma vez, era um comboio na linha número 2 com destino a …
Era um comboio que me levou, mais uma vez passados muitos, a um campo de férias.
Campos de Férias
Voltamos um dia porque prometemos. Encontramos os mesmos cheiros de hortelã e tendas vazias, o mesmo sabor de pão com marmelada e leite com chocolate, cantamos as mesmas canções e outras.
Lembramos como a noite se agiganta e fere a pele, na saudade, na dor, no parêntesis por resolver em nós e eles pequenos sentem igualmente isso a que chamam unicamente saudade. Estamos lá para quietar, para sussurrar que crescer também dói e que o mundo infinito os espera para além da curva da estrada da casa vermelha, para além da vinha, depois do fim. Sabemos mais, muito mais e podemos dizer-lhe isto sem o nomear, dizer no jeito como fazemos o colo e o sossego. Eles têm o tempo, nós o saber do tempo usado.
Lembramos como a terra se mistura na alegria e nas mãos, como ser porco não é ser sujo, como a água fria da nascente bate no corpo e magoa, como o calor desconforta e como os tanques tem musgo escuro no fundo.
Lembramos como caminhamos juntos, como passamos a salto fronteiras por riscar, como se está em Espanha a três passos do acampamento, como se pode arder com 40º graus se pusermos o nariz junto às nuvens e dessa forma se estar em França. Nunca as palavras tiveram o sabor que tem nessas caminhadas serranas, nunca a cumplicidade foi tão fácil como nesses kms de caminhar.
Voltamos um dia porque sempre estivemos, voltamos porque apenas nos predispomos a que outros, pequenos, possam saber aquilo que também nós soubemos e que hoje, achamos bonito, sólido e memorável. Damos com o sossego aquilo que nos deram na inquietação.
E mesmo nós, grandes, crescidos e sabidos, temos reservado um assombro novo na curva da estrada da casa vermelha, nas noites em que se ouvem grilos, nas sombras feitas na tenda grande e azul. Partimos para dar mas viemos imensos.
Comboios
Santa Apolónia, em tardes de Agosto, tem uma luz inigualável que vem do rio e se derrama entre as linhas, entre os abraços, entre o adeus. Santa Apolónia faz-se de um estranho silêncio dos tempos, bonito de luz, onde nos falam os que partiram e onde nos encontramos os de sempre.
Não há fim tão bonito como o abandono da luz em Santa Apolónia. Agosto.
5 Comments:
Tão belo texto.
Obrigado, Francisco. Agosto também és tu e um inter-rail memorável.
A Mónica com o Desterro. Tu a provocar com os campos. E esse texto só teu e essas fotos que arrepiam a pele. Deixa-me ganhar fôlego. Para o ano arrumo a vida para 10 dias de serra, pronto, deixo-vos o desafio...
Adorei partilhar contigo esta viagem e ler este texto e senti-lo tambem! Bjs
é tudo isso, assim exacto. obrigada por tudo.
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