sábado, dezembro 27, 2008

Cheiro a laranja que exala Dezembro

Há cheiros que ficam. No post da Helena está tudo dito. Lembro ainda Mimosas, mas os anos das passagens-de-ano nas Preces foram decisivos. Depois Tábuas, mais maduros. A tua memória do frio. Coisas que se irritam agora na pele e por isso nos coçamos a cada Dezembro que passa. Estou convicto que um dia voltaremos aos antigos sítios com o mesmo despojamento dos saberes. E ali, na janela da direita da capela, esconderemos uma vez mais a garrafa do gin e da macieira, reassumindo a perversa cumplicidade com a Helena, agora partilhando com a Mónica um cigarrito e uma cigarrilha às escondidas da Nossa Senhora da Piedade, Deus a tenha, Deus me faça acreditar que existe para nos ajudar a cumprir esse destino. E dançaremos outra vez, se esse Deus dançar como nos ensinaram que dança.

QUE DIREMOS AINDA?

Vê como de súbito o céu se fecha
sobre dunas e barcos,
e cada um de nós se volta e fixa
os olhos um no outro,
e como deles devagar escorre
a última luz sobre as areias.

Que diremos ainda? Serão palavras,
isto que aflora os lábios?
Palavras?, este rumor tão leve
que ouvimos o dia desprender-se?

Palavras, não. Quem as sabia?
Foi apenas lembrança doutra luz.
Nem luz seria, apenas outro olhar.

Andrade, Eugénio, Antologia Breve


2 Comments:

At 11:42 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

não sei quantas janelas tinha a capela, mas nós também lá tínhamos um bar (eu, ZP, Carmo e não sei mais quem) e chamávamo-nos CGTP (club gin tónico ou puro). como não nos cruzamos nessas noites gélidas? tb um pouco tristes, dessa tristeza espessa que só conhece quem vive demais

 
At 4:21 da tarde, Blogger Helena (em stª Apolónia) said...

e sabores... ressaca de macieira, ficou forte.

oh mónique... seguramente nos encontramos.

david... também tivemos umas garrafitas na janela esquerda, não ?

 

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