quarta-feira, dezembro 24, 2008

minha oferenda de Natal

"(...) Tou a gostar do teu ouvido - paciência dele, e do teu bolso, nossas cervejas imparáveis. E pode então ser que vamos estrear aqui uma grande amizade, num sei, muadiê, num sei - vida é mistério profundo só, maresia... Vida? - piano das teclas e das músicas desconhecidas, nós só aqui sentados, bitôuvens desta tarde mulata, ou esta parte do dia não pode ser mestiça?

Pessoalmente, tenho paixão pela cor amarela, especialmente essa assim amarela bem torrada: ela me deixa a cabeça vazia, em calmarias, e eu gosto de ter a cabeça assim vazia pro vento passar nela e eu estar a pensar num grande nada, minhas liberdades de ficar quieto aqui dentro - na cabeça das estórias, e ficar a rir tipo bêbado, riso das alegrias maiores, rir nada de nada, tipo os ndengues, faz conta um gajo tá sentado no muro sem pressas de ir a nenhum lado.

E rir só, a cabeça cheia dos vazios..."

Ondjaki, Quantas madrugadas tem a noite (Caminho, 2004)

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1 Comments:

At 2:20 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Bestial, não é?. Tenho esse livro fabuloso

 

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