Cartão de Natal 2008
Este ano, até aos reis, fechamos a linha à passagem de comboios, apenas livres os prioritários. Proibido o trânsito regular na linha. Mudámo-nos para um castelo, onde corre um rio, onde respiram peixes e lá será a nossa festa de sempre. A Mónica decora a mesa na sala grande com uma toalha de seda com enfeites de azevinho, acende candelabros nos seus centros e dispõe uma mesa de copos junto à lareira para a primeira bebida fresca quando chegares. A Helena anda de quarto em quarto a fazer as camas, linho com linho e, em cada uma, dispõe duas almofadas adivinhando noite de amores, esconde poemas nos lençóis de autores felizes, colecção única de selos para futuras cartas, dando, como Deus dizem que deu, graças à Virgem Maria. O David anda de corredor em corredor com uma tocha a acender archotes, iluminando o vosso caminho e bebe, sem elas saberem, um champanhe que encontrou nas cavalariças, coisa de antigos amores entre um pagão e a filha do Rei. Do portão da cidadela, dá bolo-rei aos peixes e canta «los peces en el rio», uma letra que encontrou na biblioteca, deixada por um monge espanhol do séc XVI, mirando como bebem os peixes no rio. A Mónica, sempre em correria, ainda põe uma rosa no altar da Virgem, num vaso cristal de água na entrada da capela e acende uma vela grande entre um arranjo de orquídeas apanhadas no caminho. A Helena apanhou o David a beber, sentado no trono do Rei, trazia um cálice antigo que encontrou debaixo da ara da capela, limpou-lhe o fundo com um lenço que trazia ao pescoço oferecido por um mercador grego, bebeu também em segredo, não fosse a Mónica apanhá-los sem tarefas de atarefar. Tudo está preparado para te convencer a partilhar o Natal connosco. Quando chegares ao portão, toca na sineta. Ladra-te o labrador da Helena que anda a farejar a vida por perto. Não morde. Toca, afaga o animal com carinho e entra. Se vieres com o desejo de chegar a tempo, ainda apanhas o David, também ainda a correr, a colar em todos os sítios possíveis um autocolante azul, «permitido fumar», não vá alguém desistir de partilhar a nossa festa por isso. Tudo está preparado. Até tens uma prenda junto à árvore da lareira, que te será entregue se rezares uma oração à nossa saúde. Falta que chegues. Já estamos quase sentados à mesa. A Helena espreita o forno e diverte-se com o labrador. A Mónica está sentada com o David na varanda, nas cadeiras de palha, falando de Molero e do duelo de florete, bebendo o resto do champanhe. A quem não vem, que só admitimos cabalisticamente por doença, o desejo de melhoras e um FELIZ NATAL 2008.
D H M
D H M
5 Comments:
é como se já tivesse estado nessa festa e nesses preparativos convosco, há muitos anos, noutra hora - e que saudades me deu de fazer essas coisas convosco.
acabei de pôr os pesces en el rio -pouco natalício, desenjoa do ritmo da época.
eu queria dizer "noutra era".
Seria impossível recusar um convite destes, e este castelo parece-me conhecido :)
Bela música!
Bom NATAL aos três!
~CC~
Dá vontade o vosso Natal, lá isso dá...
Queria só deixar-vos o link para o blog de um ilustrador italiano que nos visitou esta seman. Contou-me que participou num projecto para a renfe (talvez a CP italiana, ou uma espécie de refer): um livro- presente com histórias passadas nas linhas ferroviárias.
(ampliem a 3.ª imagem que corresponde à capa que é bem bonita)
http://vivavidali.blogspot.com/2008/11/treni.html
já lá fui Isabel, vale bem a pena. os comboios seduzem muita gente.
Enviar um comentário
<< Home