a escolha de Hannah
Hannah é uma menina de treze anos, doente desde os quatro. teve uma leucemia, fez muita quimioterapia e, dizem, "uma dúzia de operações". entretanto, o seu coração quase que deixou de trabalhar. passou, nestes 9 anos, muito tempo no hospital, "demasiado", diz ela, "já passei por demasiada dor".
há tempos, os médicos decidiram que o próximo tratamento seria um transplante cardíaco, sem o qual Hannah não deveria viver 6 meses. mas, desta vez, Hannah decidiu que lhe competia a ela determinar como viveria a vida que lhe restava. e que não seria em hospitais, nem em cirurgias; nem a fazer quimioterapia, cravejada de agulhas; nem rodeada de médicos e de enfermeiras. decidiu que já chegava disso e, com uma comovente lucidez, explicou às TV de todo o mundo que os riscos dos transplantes em crianças eram muitos e que ela não desejava corrê-los. escolheu ficar em casa com os pais e irmãos, no seu quarto, com as suas coisas, até a morte chegar. pediu para ir à Disneyland e os pais talvez a levem.
mas um dos médicos não conseguiu compreender. na sua volúpia tecnológica e empenho em conquistar vida à morte, provavelmente ultra-especialista em doenças e super-hábil em sofisticadas intervenções, afinal não conhecia aquela menina nem sabia quase nada de crianças, nem de pessoas, nem de viver e queria obrigá-la a ser operada, nem que tivesse que a retirar da guarda dos seus pais. mas Hannah explicou-lhe, e a nós todos, que há uma altura em que viver mais não é o mais importante.
4 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
É o «Martos» do Sepúlveda...
É uma dúvida terrível esta, a de continuar a luta pela vida até ao último suspiro ou abraçar a morte tranquilamente. Tenho sempre estimulado os meus a essa luta e com êxito. Mas quando penso em mim, penso que a minha escolha seria a desta menina.
Abraço,
~CC~
tens cá uma pontaria, Mónica! :)
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