Limpeza Ética
Tenho um novo computador de obrigação «portátil», não será para ti um espanto. O fim de tarde e este resto da noite a passar do velhinho para o novo as minhas coisas, as tuas coisas, que sabes que ainda me existem. Um mundo de informação como se um meteorito deixasse cair por desassossego, para outro, a nossa vida em pó de poeira. Testei o novo. Li, nele, (acredita!) textos de alegria. Ouvi músicas cantaroladas em antigos passos de cegueira, se me entendes. Quase joguei jogos que trazia consigo, desafios de casino. Passavam ao canto baixo as minhas fotografias, sempre a surpresa de te ver, coisas que ambos sabemos que são retratos emoldurados em madeira do século vinte. Sou agora um caixeiro-viajante. A cada novo toque de BlackBerry patronal, a cada novo sítio de trabalho, (uma ilha, um aeroporto, uma gare, uma esquina de um bar), pareço o homem da Regisconta, uma mala de trabalho a tiracolo e o chefe que proclama, altivo, a sua dependência de novos «gadgets» e eu, casmurro na minha casmurrice, com um cabo eléctrico nas mãos para ligar na primeira ficha desprevenida. Estou convertido à informática móvel. Ainda não sei como o fazer, se me apetecer, fugir para um copo descansado e, da esplanada, mandar-te em segredo uma música de jokebox, por exemplo F1 a €3, um texto só nosso e um beijo.
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