quarta-feira, outubro 17, 2007

Outonal

1. És um sopro de vento. Tudo me ficou assim outonal como a queda de um pássaro soprado à boleia de uma folha. Assim, nesse voo desprendido, consinto que me caiam a pincel restos de aguarelas de verão, as poucas certezas. Assim digo de como me caiem os braços, também outonais, no sentido de Newton para o centro da terra. O corpo às vezes é este cansaço, como um iogurte fora do prazo, o cata-vento sem vento, a pele lavada pela chuva, perdendo o sabor salino dos tempos da colheita. Assim vai, cai o meu mundo no teu mundo, espécie de espiga na eira que, se fosse vermelha, ainda te obrigaria (mesmo contrariada) à encenação pública que reza a tradição de um beijo.

2. És um saco de sal. Todo o teu saber é um fruto proibido. Todo o teu sabor é pasta de amendoim e cornflakes. Que queres da tua vida? Dinheiro? Não sabes como o ganhar? Aconselho que vendas o saco de sal, troca-o em feira franca por um outro de cal e tenta palavras com o pincel com que me caiam a vida.

3. Se fores uma espiga vermelha, foge da labuta do sem-fim da debulhadora, porque o fim ou a solução dos dias está em ti mesmo, energia que contraria a queda do pássaro, F = G x mM/d2; o perfume da folha e os meus braços, errata têm, nessa fórmula com o nosso erro de sempre nos contrariarmos.

4. Se fores uma espada, tens na lâmina o comprimento do teu tempo. Não é a excalibur do Artur, é um punhal, daqueles cheios de torcidos como os da idade média, que não cortam aço, mas versátil, para descascar a espiga onde te escondes e sangrar todos os nossos medos.

5. És. Se fores.

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