Santana Bar, politikiss
Imagina que um dia um miúdo de 25 anos acorda, confere os números do totoloto ao balcão do “Paulo Chepa” e tem disponíveis para a vida mais de 500 000 euros. Gasta a volúvel juventude em fichas de mulheres velozes, carros, álcool em abundância, passeia o feltro das mãos em mesas de jogo, distribui uma maquia filantropa pelos irmãos, casa, constrói casa e deposita o resto na compra de um bar. Nada que eu não fizesse, tirando as mesas de jogo.
Mas não estava preparado para a sorte. Homem mal aconselhado, deixou no feltro de mãos terceiras o numeral da única santa que venero: Santa Casa da Misericórdia.
Caiu na vida. Contorceu-se nessas dores de desengano. Recuou tanto no tempo que voltou à infância dos dez dinheiros com que nasceu.
O amigo, Zé para os amigos, ganhou forças e reabriu hoje o Santana Bar com uma nova energia. Afinal, aquela que tinha quando nasceu. Dez dinheiros sem totoloto. Estavam a mulher e a filha e os amigos cúmplices, muitos deles apertados em novo espaço urbano habituados à imensidão do espaço poeirento dos bailes rurais de paróquia. Lá estive ao balcão, contando um rosário de finos que caiam como lágrimas de alegria, a desejar um totoloto, fichas de mulheres velozes, carros, álcool e maquia filantropa para os meus.
Se a sorte da vida me trouxer essa dádiva, correrei quase todos os seus caminhos, menos uma estante para o álcool, mais uma estante para os livros e o meu bar – esse que um dia irei abrir para os cúmplices! - chamar-se-á, desejo antigo, «politikiss».
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