terça-feira, junho 05, 2007

Datado

Os arqueólogos datam o tempo nos mosaicos debaixo de uma vinha, a exemplo de hoje, terreno alto, introspecção certeira, a área mais rural, dizem, na bordadura do terreno. Caminhei com eles pela tarde, caminho de outras gentes, certos os meus passos ignorantes, incertos os seus passos decisivos.

Os astrónomos datam as bissectrizes dos ventos, somam anos-luz nas luzes das estrelas que chegam mortas como nados canto-do-cisne. Consigo ainda ver essas estrelas que me ensinaram quando na noite tinha tempo e os teus olhos para essas coisas.

Os políticos datam-se em agenda, efémera mas decisiva, como penteados de ancinhos formando paveias de agulhas de palavras. Agora, dizem, iniciativa e empreendedorismo.

Os emigrantes datam-se nas casas que edificaram, soberbas para eles, misericórdia e espanto para quem ficou e edificou os antigos mundos, os nossos que permaneceram.

Os escritores datam o tempo nas suas personagens. Voam o mundo. Matizam desejos. Por eles são o que querem ser que deles já sabemos.

Datado ficou o beijo que te deixei à sombra, debaixo da acácia. Caminhei contigo sem que o sentisses. Vem a terreiro. Procura-o. Disso sei eu da arte de procurar. Datar urgências. Saberias tu se trouxesses a velha mochila às costas, olhos abertos, cúmplices, pelo acreditar dos dias. O mundo e a vida datarão o peso dessa energia.

1 Comments:

At 7:34 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

saudades de quando tínhamos outros olhos - aqueles e só aqueles- para ver estrelas. tu também datas assim estas nossas coisas fundamentais.

 

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