Datado
Os astrónomos datam as bissectrizes dos ventos, somam anos-luz nas luzes das estrelas que chegam mortas como nados canto-do-cisne. Consigo ainda ver essas estrelas que me ensinaram quando na noite tinha tempo e os teus olhos para essas coisas.
Os políticos datam-se em agenda, efémera mas decisiva, como penteados de ancinhos formando paveias de agulhas de palavras. Agora, dizem, iniciativa e empreendedorismo.
Os emigrantes datam-se nas casas que edificaram, soberbas para eles, misericórdia e espanto para quem ficou e edificou os antigos mundos, os nossos que permaneceram.
Os escritores datam o tempo nas suas personagens. Voam o mundo. Matizam desejos. Por eles são o que querem ser que deles já sabemos.
Datado ficou o beijo que te deixei à sombra, debaixo da acácia. Caminhei contigo sem que o sentisses. Vem a terreiro. Procura-o. Disso sei eu da arte de procurar. Datar urgências. Saberias tu se trouxesses a velha mochila às costas, olhos abertos, cúmplices, pelo acreditar dos dias. O mundo e a vida datarão o peso dessa energia.
1 Comments:
saudades de quando tínhamos outros olhos - aqueles e só aqueles- para ver estrelas. tu também datas assim estas nossas coisas fundamentais.
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