gestão de espaços e memórias
A memória, a esta hora traiçoeira, leva-me ao «bar Labirintho» no Porto, onde numa tarde de Fevereiro de 90 me deslumbrei com fotografias de JB e legendas de M, tudo sobre o muro de Berlim. Berlim, uma palavra redonda, bola de Berlim. Discutiu-se depois o que fazer daquele espaço bombardeado de liberdade e eu ali rodeado de gin, cigarros, amores sem bilhete, clandestinos e arquitectos em catadupa – quando “O Independente” era “O’Independente”.
Mas lembro também os espaços de Hiroshima e Nagasaki, trauteando Bono no “how to dismantle an atomic bomb” e imagino que muitas discussões como a de Berlim tenham feito novos espaços e memórias.
E lembrar a correr Auschwitz, Tarrafal, forte de Peniche, Tiananmem, cowboiada 11 de Setembro em Santiago do Chile e o espaço agora silencioso da escola primária que a Ministra mandou fechar
a favor do litoral
por falta de pessoal.
Hoje é inevitável pensar no espaço que ficou das duas torres. A mesma inquietação, a memória revisitada do visto pela televisão.
Mas por nostalgia, memorizo Vilarinho das Furnas, esse espaço aquoso onde mergulhei entrando por uma porta e saindo pela janela de uma casa que já não era. Era água apenas que em gelo se tornará com o tempo. Esquecimento.
Enquanto Mário Soares e Pacheco Pereira
esgrimem o mundo na TV e esboroam a história
do que não abdico, ainda,
é da gestão do espaço e da memória
(sim, porque disseste sim, não disseste não!)
essa palavra que me deixaste
sem bilhete
a crescer no coração.
1 Comments:
mais logo venho cá deixar esse texto, para me redimir de ter faltado no dia D...
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