domingo, setembro 03, 2006

em memória d'O Independente II



Também fui, como M e tantos outros, dos que se agarrou àquelas páginas. Nos bons tempos, a primeira escarafunchava o Cavaquismo
(que para muitos, infelizmente, é a face mais visível em comentário primário),

mas o seu essencial, a sua alma, era um novo testamento em fascículos para rezar às sextas-feiras, com outros mandamentos, outras cenas bíblicas, outros apóstolos.
S. Paulo era um Portas irreverente, MEC um Messias contundente com palavra própria e se Cavaco e tantos outros pendurados na primeira página fossem o Judas, que se lixassem, digo eu.
O Génesis fez-se de imagens, textos, músicas, que até então não estavam autorizadas na linha de fronteira Portugal.

Quando nesses tempos fazia os caixilhos das folhas das cartas antes de escrever, como quem aplica madeira nobre para portadas e janelas, os textos e imagens d’O Independente eram presença assídua. Era o caixilho da derrota pelo que escreveria a seguir, porque já estava dito, fotografado, escrito, ouvido momentos antes de compor.

O tempo levou-me com eles à revista K, seguindo-lhes os passos, mas esse tempo bom d’O Independente acabou quando dele saíram os apóstolos.

Enquanto o Expresso muda de roupa e se anuncia um novo SOL, tenho dedicado os olhos a duas publicações exemplares na mesma linha: a revista Egoísta, editada pelo Casino Estoril e, mais recentemente, o Courrier Internacional (curiosamente também às sextas). Deste, obrigo-vos por imperativo de gosto a ler e a procurar a edição nº 71, de 11 a 17 de Agosto último, sobre viagens de escritores… ai, ai, H e M o que gostaríamos um dia de fazer.

A notícia da morte d’O Independente não me surpreendeu. Era uma história de coma profundo com fim anunciado. Alguém desligou a máquina. Interessante é saber que o último número esgotou em poucas horas. Gente de colecção, nostalgia… não sei, sei que guardo – com nostalgia sim! - em arquivo, o primeiro número e muitos recortes para reler e reler. Não encontrei o último nas bancas a tempo. Está o seu corpo ainda em câmara ardente na Internet. De mortuis nil nisi bonum.

1 Comments:

At 12:19 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

belíssimo requiem o teu.

 

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