Agulha 2
É domingo.
Tocou o sino na aldeia.
Sei que não me posso atrasar: «Este padre é pontual!»
O Avô Artur morreu há dezanove anos.
Estava junto dele quando respirou pela última vez e sinto-o como se tivesse acabado de acontecer.
O dia, idêntico ao de hoje, permanecia luminoso e transparente. Quase quieto. Os castanheiros encontravam-se carregados de ouriços e as cigarras estranhamente não cantavam.
Hoje vou com os meus irmãos à pequena igreja para ficar mais perto dele. O padre diz o nome do avô e dos dois netos que já estão com ele.
(soou tão mal o nome deles. a ausência deles)
A Igreja está igual. Alguns bancos corridos de um lado e do outro. Os homens continuam à frente. As mulheres sempre atrás.
(intrigava-me este facto quando pequenina seguia atenta aos movimentos e pormenores deste local)
A porta lateral está aberta e à sua entrada continua o cão à espera do seu dono.
Hoje não é o avô e os seus irmãos que se sentam nos primeiros bancos, junto ao altar. Hoje é o meu pai e os seus irmãos.
E com a luz intensa que atravessa as janelas quase já não sei quem vejo, se o pai ou o avô:
- Guito ratito (assim me chamava o meu avô Artur)
MG – Cais Leixões
1 Comments:
G: que história bonita; e que bom levar-te à boleia pela linha.
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