às vezes, nos livros
às vezes amamos um livro, uma escrita e, por seu intermédio, um autor. identificamo-nos, apaixonamo-nos e imaginamos esse autor uma decorrência da sua escrita. depois, um dia, vemos esse escritor e, às vezes, o mundo cai à sua volta: ele é feio, porco ou mesmo mau (às vezes é só sem graça ou, quando fala, não constroi uma frase que se veja). mas os livros dele provam o absurdo de tudo isso.
outras vezes amamos uma pessoa, as suas mãos, as suas palavras, o ar que ela respira. ou as fotografias que tira, as notícias que nos dá, o seu palmo de cara. fascinamo-nos. depois, essa pessoa tão amada, escreve um livro e, às vezes, a sua escrita é um deserto, não faz sonhar nem nos leva a lado algum, e, também aí, tudo cai à sua volta. quando acontece, é tão triste que não se pode dizer mais nada.
(a propósito de um post no Porque sobre "a obra e o autor," decidi recuperar este texto que, em Setembro de 2005, postei na Hora Absurda - o meu blog experimental, entretanto desactivado)
Etiquetas: livros
1 Comments:
Nem sempre o corpo consegue transparecer o lustre da alma.. e nem sempre a voz da alma grita em uníssono com o corpo.. vamos fantasiando por entre pensamentos perdidos, atrevendo-nos a vestir cada gesto que nos fascina e cada palavra que nos toca com a ingénua ilusão de quem toma o todo pela parte.. Gostei muito do texto.
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