quinta-feira, agosto 24, 2006

memória boa


ao X (eternamente)

memória de quando adormecias cansado a meio de uma música dos Woodentops e no fim de uma maratona que começava sempre assim:

tu aflito "temos frequência amanhã", se eu já tinha estudado, se te dava umas dicas, e eu que, céus, estava quase tão aflita como tu, descoberta a minha aflição apenas um dia mais cedo, eu a dizer que sim, que viesses treinar os declives e as acelerações, as forças de atrito e outras, as alavancas - sim, da primeira vez foi a física, depois a química e a estequeometria, a biologia das populações mais tarde, uma a uma todas as cadeiras sinistras desse curso distante e impraticável que tiramos -.

e eu lá fazia das minhas tripas coração e do meu coração um neurónio apurado e encontrava todos os fragmentos desconexos de conhecimento que começara a reunir apenas na véspera e, aflita com a tua aflição, conseguia para ti perceber o que era ainda vago para mim de modo a, num instante, te poder ensinar o que eu mal aprendera, no final eu mais aflita do que tu porque só eu sabia que na verdade nada sabia ainda do que te ensinava. ficávamos nisto pela noite fora, cigarros e café, tostas, leite e era

uma coisa tão boa, estarmos assim, ombro a ombro, avançarmos assim até de madrugada até chegarmos à faculdade, despacharmos a frequência quase sem nos determos nela - tudo se converteria num 11 ou 12 suficientes para que seguíssemos em direcção ao que interessava. depois daquilo não conseguíamos separar-nos facilmente: fumávamos ainda e chegava-nos uma lassidão antiga. comíamos ovos escalfados e fruta, mais cigarros pela tarde fora, na praia, e música. dormitávamos às vezes nessa lassidão, good thing,

em direcção à noite, invariavelmente comemorada até à manhã seguinte, mais música, cigarros e cervejas e a certa altura fórmulas matemáticas extraviadas metiam-se entre nós enquanto dançávamos, cruzavam-se sobre as nossas cabeças e sabíamos que era enfim hora de irmos para casa.


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2 Comments:

At 2:15 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Que aflição, lassidão tão boa... Lembro-me quando nos manuais emendávamos a tinta de escrever bic o título «Lições de Física e Quimica« por
«(AF)Lições de Física e Química.»
Peço-te mais memórias como esta. Assim, um em cada parte, construiu o mundo que vivemos juntos, a formatar o que somos hoje entre presumíveis desejos com erro até então química e fisicamente pouco anunciado.

 
At 10:15 da manhã, Blogger H em Stª Apolónia said...

bonito, muito bonito

 

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