de que é feito um homem?
tenho andado, por razões várias e coincidentes, a vasculhar no baú: o imenso baú de um passado preservado pela palavra escrita e pelas imagens. são centenas de cartas e fotografias e uns quantos cadernos escritos dos quais se desprendem por vezes papéis soltos nem sempre fáceis de datar. foi deste baú que recuperei os silly posts precendentes bem como a semente de outros tantos, nada silly, que trago na cabeça para postar um dia: sobre as cartas, sobre um sonho, sobre o destino.
também deste baú surgiu a interrogação de hoje: palavras, pessoas, momentos, paixões, sentimentos, gritos, vergonhas, asneiras, vitórias, renúncias, poemas, coisas de que se fizeram os dias da minha vida, um todo que me constitui afinal, me alicerça, me estrutura e preenche todo o insterstício do que sou. um todo que eu própria desconheço (por traição da memória, esse orgão cujo controlo nos escapa) e certamente ainda mais estranho à generalidade das pessoas que me rodeiam mas aqui evidente porque, desde pequena viciada na palavra escrita e na fotografia, criei este baú que contém parcialmente a perda inexorável desse conhecimento.
claro que isto já vem na bíblia: "«Molero fala da outra parte da verdade que se escapa», disse Austin, ajeitando o relatório nos joelhos, «fala da vida que se esconde em cada ser, do fluido em que essa vida continuamente se perde e se reencontra, esse universo privado de sensações subtis que perseguimos e nos perseguem». (...) falta uma parte vital dessa vida, a sua substância mais alada, a vida de um homem é sempre mais pesada, e também mais leve, sempre mais ampla, do que a avaliação dela feita por outro (...)." (Dinis Machado, O Que Diz Molero)
(também Marguerite Yourcenar fala disto, pela pena de Adriano, mas ainda tenho de procurar a citação)
Etiquetas: Dinis Machado, minhas histórias
2 Comments:
Não vale a pena procurar a citação. Tu e Molero nos bastam para te reconhecer inteira, e à tralha do teu baú.
que bom saber que voltas a andar por aí Gab
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