domingo, agosto 13, 2006

velhote


Velhote, estás aí? …

Velhote é, para os que não sabem, um amigo que se cansou de filosofar na terra e partiu. Deixou-nos os olhos azuis a marear a memória mas de verdade foi mesmo ensinar metafísica aos anjos e sobretudo baralha-los.

Talvez o apanhe num instante de permeio entre a fé a profanação, a sorrir leve e maliciosamente, e aí o desvie desse gozo de confundir anjos... preciso de te falar. Estavas lá, não estavas? ao entardecer junto ao rio. Santa Apolónia e os comboios a chegarem. Os miúdos de mochila a não querem acabar o tempo ali e a cantarem com a força de quem espanta a dor da separação. A alma trucidada como dois carris paralelos e tão iluminada da mesma luz doirada de fim de dia. Os miúdos tão prontos a saber a essência da vida. Estavas lá que te vi de esguelha... sorrias? Certamente. Sorriso doce e simultaneamente orgulhoso. Filhos de gente que fizeste. Que igualmente viste, num dia terreno, a chorar no mesmo abraço onde começa a saudade e parte o comboio. Ligeiramente orgulhoso... são giros os nossos filhos, não são? mordidos de mosquito, encardidos de terra até aos olhos, vergados ao peso da mochila e tão cheios de felicidade. Essa mesma. A que fizeste para nós e nós, por gratidão eterna, a legamos como dádiva. Mas são giros os putos, não são?

Bem te vi... vira a esquina, aparece que bebemos um fino para gelar o calor e estancar a comoção. Não falaremos explicitamente disso mas tu contarás coisas de anjos como quem fala dos nossos filhos.

Quando te deixar no tasco, vou a trautear baixinho “ venham mais cinco “ e tu... tu assobias. Ainda te ocorre fazer a inscrição dos teus etéreos amigos, esses anjos baralhados do céu, num campo de férias. Dos teus.

1 Comments:

At 1:32 da tarde, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

como escreveu o Diogo C: ele está no meio de nós. para sempre.

 

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