sexta-feira, agosto 25, 2006

um amigo visionário

JC, que não o dos milagres, a decantação de conversa adoçada a jeropiga de copo lento, contou-me uma história que registei devagar. Foi fino a falar de todo o Brasil que conhece, todos os contornos de África e a cosmopolita Londres, onde uma filha se dedica a investigação em universidade credível e apetecida e, mais entusiasta na conversa, ainda teve tempo para me contar a Lisboa de 1960 quando a vida o levou, volátil, para as proximidades do Campo Pequeno.

A visão que alimenta. A vida pegada pelos cornos, ferro «deixem-me o futuro em paz». Uma rapariguinha desceu do autocarro e ele, absorvido numa visão única pensou «vem ali a descer a minha futura mulher».

Com ela casou, disse, confirmando o rosto com quem hoje partilha a vida, o mesmo que do autocarro desceu.

Fez-lhe a filha de Londres. É feliz, presumo, no rigor com que intervala cada palavra e na forma como dela fala, porque disse que se parece com a mãe que naquele dia desceu do autocarro.

Mais tarde, no nosso outro adoçado copo de jeropiga contou: teve um sonho único. Que havia um homem sobre uma ponte com calças brancas, sabre pendido na perna direita, a desafiar um homem desdentado do outro lado do rio. Viu, amigo visionário, mais tarde, a cena numa reportagem do canal Odisseia, assunto algures ocorrido em Itália.

Acreditou que há uma energia que cumpre o destino. Convidou mulher, cunhados e cunhadas, mandou vir a filha de Londres e a Itália foram. Escolheu Florença, porque sentiu que a ponte e o desdentado estariam por ali.

A Europa de Bruxelas trouxe outras vias. Havia uma ponte nova junto ao monte sobre o rio. Perguntou pela ponte.

- Que ponte? – disse o transeunte questionado.

- A de pedra, disse JC.

- Há, essa? Está por debaixo da de Bruxelas à espera que o desdentado a atravesse contra um gajo de sabre que o desafiou num sonho. Vendemos isso turisticamente como lenda. Dirijam-se ao quiosque do turismo. São portugueses? Temos catálogo em português.

JC, disse: Foda-se! (já com o catálogo na mão). Estou maluco? Ó Fernando, não te dizia que este mundo é aqui? E tu, filha, do you believe in my dreams?

1 Comments:

At 12:36 da tarde, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

eu já tive visões assim: sonhos impensáveis que se realizaram. acho que todos temos, basta prestarmos aos sonhos a devida atenção.

 

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