terça-feira, fevereiro 14, 2006

O LAGO DA PEREGRINAÇÃO E OS PÉS EM NOVA TERRA

carlos nuno freitas - 1000 imagens


Todos arranjamos um jeito para andar feito pelo sentido de ir. É uma vocação idiossincrática de mobilidade ou apenas a conjugação de um verbo. No passado e no futuro. A dificuldade está no sentido, não no tempo. Para trás, onde guardamos a memória, ou para a frente, onde a queremos construir uma vez mais.

Atrás é o lago da peregrinação, reduto desta linha, que fixa H, M e D nas suas areias - estacas de madeira, suporte de um cais imenso - visitado por voos de gente que no recuo da mobilidade nos têm vindo a agitar as águas e a deixar indeléveis pegadas, palavras na areia. Chegam em barcos imaginários com a lanterna de marinheiro, acesa numa torcida de gin no topo da ré. Desconhecidos alguns, outros porque a vida nos fez feliz junto deles e a ela gostam de voltar. Gente que não saberíamos nunca se o oásis do lago não as traísse e nos devolvesse delas marcas de água sem as perturbar. Nada há a registar para os media: recebemos o pedido de acostar e deles sibilinamente guardamos segredo. Ver-se-á, um dia, a sua presença, se souberem usar a água e o lençol de areia na nossa sombra, plantando canteiros onde, pela fidelidade de anos, nascerão meia-dúzia de flores.

Para a frente é também o desejo da linha. Definir o compasso como quando se plantam novas árvores, alinhamento no sentido do sol e da água das nascentes.. E nisto sinto que H e M estão comigo: hospedar quem chega com antigas comodidades de prazer e projectar futuro, novas memórias em novos lugares.

- Recuar é fazer como os Xuar e no lago apagar as pegadas deixadas na areia.
- Pés em nova terra é ir pelo menos a um sítio novo uma vez por ano. Lá, enterrar bem os pés na terra, criar novas raízes, para que o lago tenha novas memórias para os antigos voos.

A isso me dedico enquanto andar!

3 Comments:

At 11:23 da manhã, Blogger Gabbiano said...

Lembras-me José Luis Peixoto ou José Riço Direitinho. E foi há tanto tempo que não me lembrava de ti assim. Vou continuar a ler-te(e a H e M, com saudade).

 
At 7:41 da tarde, Blogger David (em Coimbra B) said...

O privilégio não é ser lembrado pelos Josés.
Privilégio e voltarmos a lembrar a vida feliz que fizemos juntos... e ter-te como leitora.
Nós visamos-te um passaporte. Não precisa requerimento nem fotografia actualizada. Apenas memória. É a linha dois, junto ao bar.
D

 
At 9:05 da tarde, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

Gab: D apurou-se com a idade, como certos vinhos. ninguém se lembrava dele assim, da mesma forma como não saberíamos, nesse tempo apreciar um bom vinho. todos nos deslumbramos agora.

 

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