sexta-feira, fevereiro 10, 2006

"Contribuição para a estatística


Em cada cem pessoas:

Sabendo tudo mais que os outros:
- cinquenta e duas,

inseguras de cada passo:
- quase todas as outras,

prontas a ajudar desde que isso não lhes tome muito tempo:
- quarenta e nove, o que já não é mau,

sempre boas porque incapazes de ser de outro modo:
- quatro; enfim, talvez cinco,

prontas a admirar sem inveja:
- dezoito,

induzidas em erro por uma juventude, afinal tão efémera:
- mais ou menos sessenta,

com quem não se brinca:
- quarenta e quatro,

vivendo sempre angustiadas em relação a alguém ou a qualquer coisa:
- setenta e sete,

dotadas para serem felizes:
- no máximo vinte e tal,

inofensivas quando sozinhas, mas selvagens quando em multidão:
- isso, o melhor é não tentar saber mesmo aproximadamente,

prudentes depois do mal estar feito:
- não mais do que antes,

não pedindo nada da vida excepto coisas:
- trinta, mas preferia estar enganado,

encurvadas, sofridas, sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas:
- mais tarde ou mais cedo, oitenta e três,

justas:
- pelo menos trinta e cinco, o que já não é mau,

mas se a isso juntarmos o esforço de compreender:
- três,

dignas de compaixão:
- noventa e nove,

mortais:
- cem por cento, número que, de momento, não é possível mudar."

Wislava Szymborska, citado por João Loão Antunes in "Sobre a mão e outros ensaios"

Etiquetas:

2 Comments:

At 11:17 da tarde, Blogger H em Stª Apolónia said...

mortais: cem em cem, chamado em estatística acontecimento certo. Probabilidade 1. que bonita fica aqui e assim a estatística...

 
At 2:01 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

amigos:
não mais do que três.
A conta que Deus fez!

 

Enviar um comentário

<< Home

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!