Isto de escrever não é mania. É chuva. É jeito. É vontade quente.
Sempre fui muito melhor escritora de cartas que de textos. Sempre tive melhor as palavras num espaço confinado e íntimo do que num espaço imenso. Sempre. Consciencializei mais tarde essa sensação de precariedade que qualquer texto me deixava no fim. Ao mundo, sempre senti que pouco tinha a dizer. Aos meus remetentes, sempre senti que tinha tudo a dizer.
Havia os textos meus, cadernos riscados, onde escrever era vingar qualquer dor. A dor de não caber em mim, a dor do mundo, a dor de um amor, a dor pequena e rasteira. Ficaram nos cadernos esses escritos abandonados de quem depois cresceu, a quem depois não doeu.
Havia os textos que eram cartas. Muitas. Imensas. Quentes. Havia as cartas onde escrever era fazer a intimidade, ousar a sedução, abreviar a timidez. Nessas, sempre senti a escrita mais perto. Quase a arfar.
Havia os textos publicados e os textos concorridos, e esses aconteceram muitas vezes por haver tempo a mais em Setembro de fim de verão. Por haver noites a mais para uma vida ainda a menos. Porque havia um jeito fácil e folhas brancas ao lado. Sempre senti que pouco tinha a dizer ao mundo e a sinceridade desses textos, sendo genuína, não era profunda.
A mão parou devagar em cima da chuva. Começou a folhear mais que a escrever. Deixou-se devagar entropecer. Continuaram cartas cada vez mais esparsas. Descobri homens e mulheres mais sabedores das palavras, mais perto delas.
Ás vezes, acontecia-me ficar triste por já não escrever. Ás vezes, acontecia-me achar que era um segredo a retomar contra o mundo.
Mas ficou de uma quietude imensa. De uma chuva mansa. Porque não tenho necessidade.Porque tenho uma resposta. Porque sei que agora eu escrevo a memória das minhas filhas.
A Linha do Norte trouxe-me, de novo, a esse movimento hesitante da mão. Á tremura das palavras, ao arfar delas mais perto de mim. Mas como temos uma folha branca dividida, ainda me perco entre escrever um texto ou fazer uma carta... a linha seguramente me fará esta aproximação. Porque duas linhas paralelas interceptam-se no infinito.
Sempre fui muito melhor escritora de cartas que de textos. Sempre tive melhor as palavras num espaço confinado e íntimo do que num espaço imenso. Sempre. Consciencializei mais tarde essa sensação de precariedade que qualquer texto me deixava no fim. Ao mundo, sempre senti que pouco tinha a dizer. Aos meus remetentes, sempre senti que tinha tudo a dizer.
Havia os textos meus, cadernos riscados, onde escrever era vingar qualquer dor. A dor de não caber em mim, a dor do mundo, a dor de um amor, a dor pequena e rasteira. Ficaram nos cadernos esses escritos abandonados de quem depois cresceu, a quem depois não doeu.
Havia os textos que eram cartas. Muitas. Imensas. Quentes. Havia as cartas onde escrever era fazer a intimidade, ousar a sedução, abreviar a timidez. Nessas, sempre senti a escrita mais perto. Quase a arfar.
Havia os textos publicados e os textos concorridos, e esses aconteceram muitas vezes por haver tempo a mais em Setembro de fim de verão. Por haver noites a mais para uma vida ainda a menos. Porque havia um jeito fácil e folhas brancas ao lado. Sempre senti que pouco tinha a dizer ao mundo e a sinceridade desses textos, sendo genuína, não era profunda.
A mão parou devagar em cima da chuva. Começou a folhear mais que a escrever. Deixou-se devagar entropecer. Continuaram cartas cada vez mais esparsas. Descobri homens e mulheres mais sabedores das palavras, mais perto delas.
Ás vezes, acontecia-me ficar triste por já não escrever. Ás vezes, acontecia-me achar que era um segredo a retomar contra o mundo.
Mas ficou de uma quietude imensa. De uma chuva mansa. Porque não tenho necessidade.Porque tenho uma resposta. Porque sei que agora eu escrevo a memória das minhas filhas.
A Linha do Norte trouxe-me, de novo, a esse movimento hesitante da mão. Á tremura das palavras, ao arfar delas mais perto de mim. Mas como temos uma folha branca dividida, ainda me perco entre escrever um texto ou fazer uma carta... a linha seguramente me fará esta aproximação. Porque duas linhas paralelas interceptam-se no infinito.
5 Comments:
é tão bom voltar a ler-te!
para mim é como se as palavras sempre se tivessem mantido lá; mas vai faltando aquela espécie de abismo que nos leva a escrevê-las.
Coimbra, 13 de Fevereiro de 2006
Querida H,
Escrevo-te esta carta para exercitar as mãos. Os dedos andavam presos até que a linha os obrigou a este novo treino quotidiano. Não é físico, de emagrecer. É ligeiro, apenas porque passa, tentando passar palavras todos os dias.
1 beijo
D
Isabel
serás tua a nossa doce isabel ? aquela que fez uma ilha azul e voltou. a nossa pequena e imensa Isa ?
suspeito que sim. queria muito que sim.
Pode ser que apanhe, em qualuqer estação da linha do norte, combóio para lugares onde já morei. E que nem só de escrita se fizeram, mas também.
boa noite h.
tenho andado a ler-te por aqui, como quem lê palavras clandestinas.
uma espécie de chuva fina.
cheira a madeira e a mar a tua escrita. como as tuas cartas. não sei dizer essa memória. sabe bem.
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