Triana
Triana fica mesmo do outro lado do rio Guadalquivir. Bairro operário, berço do Betis e de muitos toureiros e artistas, mantém ainda parte da sua autenticidade que se respira na noite quente, nas casas antigas e floridas das ruas quase sujas, nos bares cheios e nos copos bebidos junto ao rio, nos muretes de pedra, onde o mundo conversa o calor de abril. Nas cidades do sul as conversas de noite são quase sempre varridas a brisa e tem um rio por perto para humedecer o estalar seco da alma. Porque todo o mundo sai para a rua, se senta na pedra e conversa. Sejam jovens, operários ou aristocratas, mulheres de vulgaridade bonita ou beleza rara, donas de casa roliças e devotas. O mundo inteiro cabe no mesmo espaço, sobre a mesma noite, na mesma frescura.
Bebemos um gin e ficamos na calidez da noite a olhar o rio e o mundo. A espreitar a felicidade feita da sintonia entre a vulgaridade e o seu quente usufruto, feita de pequenos prazeres insuspeitos e disponíveis. Tão perto da água escura.
Acabamos a conversar com o empregado, a quer saber para onde vão quendo querem dançar sevilhanas e assim acabamos no “ el nuestro”. Um bar pequeno e ocre com um estrado no canto onde, ao vivo, se tocava e cantava sevilhanas e flamengo. Um bar onde se fumava com despudor, onde os copos pousados no chão se partiam com frequência, onde a dança acontecia espontânea nos corpos das mulheres e se concentrava no taconear dos pés e no movimento das mãos. Espaço exíguo e sem qualquer adorno senão esse de ser um espaço para dançar e nele caber o mundo inteiro a bailar ou tão só o mundo encostado ao balcão como quem espera o amor ou nele acredita. Junto ao estrado, onde se alternavam os tocadores de guitarra e as vozes, penduradas duas imagens da Virgem de la Macarena, ali a meias no mais profano da noite.
Ficamos quase até ao fim, enebriados com a dança que brota das mãos, sem idade e a caber em todas as histórias de vida, sobre o olhar protector da virgem que, suspeito, só não pediu mais um gin por vergonha.
Bebemos um gin e ficamos na calidez da noite a olhar o rio e o mundo. A espreitar a felicidade feita da sintonia entre a vulgaridade e o seu quente usufruto, feita de pequenos prazeres insuspeitos e disponíveis. Tão perto da água escura.
Acabamos a conversar com o empregado, a quer saber para onde vão quendo querem dançar sevilhanas e assim acabamos no “ el nuestro”. Um bar pequeno e ocre com um estrado no canto onde, ao vivo, se tocava e cantava sevilhanas e flamengo. Um bar onde se fumava com despudor, onde os copos pousados no chão se partiam com frequência, onde a dança acontecia espontânea nos corpos das mulheres e se concentrava no taconear dos pés e no movimento das mãos. Espaço exíguo e sem qualquer adorno senão esse de ser um espaço para dançar e nele caber o mundo inteiro a bailar ou tão só o mundo encostado ao balcão como quem espera o amor ou nele acredita. Junto ao estrado, onde se alternavam os tocadores de guitarra e as vozes, penduradas duas imagens da Virgem de la Macarena, ali a meias no mais profano da noite.
Ficamos quase até ao fim, enebriados com a dança que brota das mãos, sem idade e a caber em todas as histórias de vida, sobre o olhar protector da virgem que, suspeito, só não pediu mais um gin por vergonha.
2 Comments:
e dançaste?
Assim somamos lugares de partilha. Quem te disse que não iremos lá um outro dia?
Enviar um comentário
<< Home