quarta-feira, novembro 07, 2007

Salazar WC

O Sr. Presidente do Município de Santa Comba Dão quer um museu Salazar. A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) lança petição contra essa motivação. João Lourenço pensa a memória dos santa-combenses, fundamentado na distância do tempo em que começa o facto histórico, devendo ser preservada em, por exemplo, caixilhos de fotografias e todos os discursos em caixinhas de veludo.

A URAP resiste. Tem outra memória. Exumará corpos, se preciso for, para exibir 48 anos de assassínios e outros desenlaces sanguíneos.

Chamem o Calatrava, o Frank Gehry, o Sisa, patrocinem-se na Fundação Guggenheim, que eu ofereço o esboço do projecto:

- uma grande casa de banho pública dos tempos da ditadura!

À esquerda, onde se situaria o mictório masculino, uma entrada de três portas de carvalho, umas abrindo sobre as outras sem Otelo, apenas a evocação da resistência. Espaço amplo com paredes de cal e chão de madeira. No ambiente, música do Zeca e, na parede do fundo, uma fila de urinóis correspondente às siglas dos partidos candidatos às eleições legislativas de 75. Mijar da esquerda à direita, haja impulso mictório para isso.

À direita, onde se situaria o mictório feminino, uma única porta, porta do Estado Novo feita de tola, abrindo para um crucifixo, madeira leve mas dura levitando a história, tola de inteligência. Espaço acanhado com paredes de adobe e chão de carpetes de sisal sobre placas de mármore. No ambiente, música do Pe. Borga e, na parede do fundo, uma pia de água benta correspondente à União Nacional. Benzer da esquerda à direita, haja mãos fora das luvas, sem frieiras, para a beatificação.

Que não puder entrar,
é porque não têm vontade de mijar ou de rezar.
Ou porque não têm dinheiro para o bilhete,
ao preço a que nos estão a pôr a cidadania em Portugal!

7 Comments:

At 12:09 da tarde, Blogger Cristina Gomes da Silva said...

Lamentável! E acham tudo muito normal, muito coexistente em democracia, muito tolerável e admissível. Façam altares e oratórios nas próprias casas, com os ícones que quiserem, mas não imponham ao resto do país a vergonha de passados mal digeridos. Que asco!

 
At 12:35 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Confesso que não entendi o seu comentário, ou então expressei-me, contra o seu gosto, pela bílis. Aceito-o sem asco.

 
At 3:42 da tarde, Blogger Cristina Gomes da Silva said...

Caro David,
já sabíamos que a "linguagem é fonte de mal-entendidos", mas acho que não me enganei, ao ler nas suas palavras uma atitude de rejeição/reprovação/contestação das pretensões do Presidente da Câmara de Santa Comba Dão sobre a construção de um Museu do Estado Novo, cujo objectivo maior é o enaltecimento dessa figura mesquinha e sinistra que se chamou Salazar e que nos calhou em sorte, ou em azar :) . O meu comentário não se referia à sua proposta quase "Duchampiana" mas à do edil de SCDão. Se me enganei, peço desculpa pelo comentário que deixei, mas continuo a achar lamentável que a memória se apague e se revivifique tão estranha personalidade em tempos de democracia, seja qual for a profundidade com que a sociedade portuguesa vive esse conceito. Abçs

 
At 5:33 da tarde, Blogger David (em Coimbra B) said...

Agora sim, percebi o seu ponto de vista e estou no essencial de acordo. Continue na linha.

 
At 9:25 da tarde, Blogger Cristina Gomes da Silva said...

Desfeitas as dúvidas, continuarei, obrigada.

 
At 1:23 da tarde, Blogger Cristina Gomes da Silva said...

Olá David, a propósito do assunto leia-se hoje, domingo, dia de S.Martinho, a Opinião de Vasco Pulido Valente no Público :)

 
At 4:43 da tarde, Blogger David (em Coimbra B) said...

Já li. Parece que com mais ou menos «potes de cal e uma limpeza» continuamos no essencial de acordo.

 

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