Torga 100
Quem escreveu muitas das palavras entre sementes, depois semeadas juntas e ditas rente à terra com o tempo da pouca água que sempre demora, porque, querendo-a límpida como o coração (antes filtrada à areia e à raiz das plantas e dos cânticos), não necessita de homenagens póstumas.
Valia mais, na sua arte de ortorrino, que os donos das gravatas e de cargos políticos, em vez de se degladiarem entre presenças e ausências, tivessem feito hoje – os que quiseram estar! - um minuto de silêncio sem discursos nem estátuas, escutando apenas a música que ainda emana dos seus ouvidos, folhear à sombra do dia os seus diários mesmo que os não compreendam em absoluto e cheirar os odores campestres que temperam a sua poesia preciosa. As coisas simples e decisivas da vida, como esta:
Instante
Valia mais, na sua arte de ortorrino, que os donos das gravatas e de cargos políticos, em vez de se degladiarem entre presenças e ausências, tivessem feito hoje – os que quiseram estar! - um minuto de silêncio sem discursos nem estátuas, escutando apenas a música que ainda emana dos seus ouvidos, folhear à sombra do dia os seus diários mesmo que os não compreendam em absoluto e cheirar os odores campestres que temperam a sua poesia preciosa. As coisas simples e decisivas da vida, como esta:
Instante
A cena é muda e breve:
Num lameiro,
Um cordeiro,
A pastar ao de leve;
Embevecida,
A mãe ovelha deixa de remoer;
E a vida
Pára também, a ver.
Torga, Miguel, Antologia Poética – Tomar, Setembro de 1941
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