domingo, dezembro 24, 2006

as prendas: o problema de receber

tenho um problema com prendas: quando pacientes me oferecem coisas fico imensamente desconfortável e ainda não decidi se é por:

  • temer que quem oferece espere algo em troca?
  • sentir que a oferta gerará um conflito de interesses que gostaria de evitar?
  • a gratidão que depreendo destas ofertas resultar exclusivamente do exercício das minhas funções enquanto profissional de um serviço público, pelo qual sou devidamente remunerada (e a um nível provavelmente superior ao da maioria das pessoas que me presenteiam)?
  • sentir nesse gesto de "comparecer" com um presente perante o médico um odor do "respeitinho" típico deste país: um misto de devoção, temor, afirmação de uma posição, ameaça e garantia futura?
  • não saber, simplesmente, receber? guardo desde 1995 uma crónica de Miguel esteves Cardoso intitulada "Receber" que foi ao osso de um problema que tenho desde pequenina: receber, como escrevia MEC, sempre me custou, me fez sentir culpada (precisamente do desejo de receber), me fez sentir não merecedora.

provavelmente será um pouco de tudo em proporções variáveis, dependendo da oferta e de quem oferece, levando a que umas vezes eu me zangue, outras tente recusar (mas já aconteceu recusar uma prenda e virem oferecer-me outra, como se eu tivesse regateado), e outras acabe aceitando humildemente, advertindo embora que não seria necessário presente nenhum .

MEC dizia que "Dar sem esperar nada em troca e receber sem sentir a obrigação de retribuir é a nossa única salvação. E é tão fácil que até chateia". Mas não é, não é nada fácil.

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1 Comments:

At 11:14 da tarde, Blogger David (em Coimbra B) said...

As pessoas com profissões abertas à vida das pessoas sentem essa dificuldade. E o que eu sei disso. Tanto. «Mas não é, não é nada fácil.»

 

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