segunda-feira, dezembro 18, 2006

o gosto de ser menino (para a Isabel da Gramela)

Aprendi numa taverna em conversa de dois velhos que os homens se fazem homens quando constatam que precisam de comprar uma gravata preta para ir a funerais. É isso o ser homem, disseram. Ter gravata preta disponível para homenagem de quem parte.
Ultimamente tenho ido a funerais que baste. Uns previsíveis, outros porque o Deus de quem nele acredita decidiu chamar cedo demais ao reino dos céus.
Morreu-me uma amiga. Digo amiga, porque nunca discuti com ela a árvore genealógica entre tia e prima, boa que era a relação de sangues.
Perdeu marido e filho num nevoeiro de estrada. Aguentou firme na sua idiossincrasia. Caiu na semana passada de pé com a mesma firmeza quando a vi viúva naquele outro dia do nevoeiro de estrada, olhar distante, mas firme, no futuro que restava.
Governava uma quinta que me ficará na memória – quinta da Gramela - onde a família passou natais felizes. Tinha a habilidade de juntar a família de África e a família da Gândara num perfume precioso e os amigos, chegados à fogueira da cozinha ou do salão na conivência dos cães, tinham vinho, um sorriso, comida e conversa farta, sendo pertença por uma noite grande desta azáfama de bem-estar. Em sua homenagem não levei gravata preta, que não tenho, aliás. Mas porque para ela eu fui sempre o primo do filho e fio fiel de família. Um menino como o dela, meninos alegres, felizes, que nada tinham de homem de gravata preta. Chamava-se Isabel. Para que conste!

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