sexta-feira, dezembro 15, 2006

Bahia dos desejos


A Bahia é uma saia grande de areia a roçar o mar, maré de música colorida, cheiros de moqueca e casquinha de siri. Vestem-na gentes de ébano, orixás de Oxalá, estética negra, muitas personagens de Jorge Amado, andando e andando numa percussão perfeita de Ilê Aiyê dos Matingueiros. Percebo agora que mesmo com a deriva dos continentes, quase toda a África se mudou para ali.

A Bahia é também uma via-sacra dispersa, 365 igrejas (uma por cada dia do ano) de portas abertas, coroando-se no Sr. do Bonfim, uma pulseirinha no punho, um colar ao pescoço e três desejos.


A EXPO Brasil – Desenvolvimento Local onde estive é um congresso dos excluídos da grande economia. Dos “sem-terra” a gentes da Cidade de Deus, do bairro do curuzu aos confins de Angola e Moçambique, do Quebec a São Tomé. Mas esta aparente pobreza tem uma força imensa. A cultura que encerram e o respeito pela interculturalidade e vontade de integração em projectos de desenvolvimento – não absorção! - com outros povos, alimentam esta rede informal de alegrias que se junta, se solidariza e é criativa nas soluções para o bem-estar de cada um em cada parte. Para quem não conhece este movimento parecer-lhe-á um “lá longe marxista” do outro século. Para quem participa, mesmo com algumas dúvidas de vício europeu como as minhas que aqui confesso, é sentir que há homens e mulheres nos buracos negros do mundo que se transformam naquela energia mínima onde começa a vida e dela fazem mundos para os vindouros. Que esta energia não acabe nestes homens e mulheres que acreditam, ó Sr. do Bonfim.

Se és um Deus que acredito saiba dançar,
mete berimbau no altar,
reza capoeira, mantém as igrejas abertas da Bahia por eles, uma por cada dia. Esse foi um dos meus desejos
conversando com o mar que ali dormia.

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