VIGÍLIA EM MARÇO PARA QUE CHOVA
Nenhum Corso me contratou. Desci em vigília o sambódromo do quintal à procura da água que não vem. Os peixes vermelhos do poço pastam o fundo das areias, não a têm suficiente para chegar à pedra grande do adobe onde nascem outras verduras, sinónimo de pouca água nas nascentes. O Langa, gato preto de território largo, enroscou o corpo pelos meus pés. O empado das videiras, empado está. Querem sol, percebo. A cerejeira nada diz. Nem sol, nem água, nem flor, nem fruto, desenraizada que foi um dia do Fundão. O pessegueiro mostra olhos de sede. A figueira cresce um tronco mais forte, ávido de corda para pescoço imprudente. O Langa descobre água na pia da laranjeira e por lá fixa os movimentos de silêncio felino. Triunfal, a tangerineira pintou-se de azul cobalto ao estilo Bombaím, novelando água que não chega. As couves galegas, altas, balançam-se agora no vento norte orientado pela bruxa catavento do telhado, de vassoura em riste, varrendo as nuvens do tempo que não chove. Face à escassez, decidi beber água apenas quando chover. Águas de Março. Se caírem, em morrinha ou em garroa, breves e intensas como só na Gândara acontece.
1 Comments:
Amigos... isto anda um pouquinho desalinhado, não ? as músicas que só se deixam ouvir um quase nada ( isto não sei!) as nossas estações que cairam para o fundo da linha...amanhã tento repor.pela noite. depois de alinhar o dia, também.
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