segunda-feira, outubro 22, 2007

casa devoluta

Tenho deixado derramar a luz nos poucos, muito poucos, bocados de tempo sobrante. Vai ser assim até Dezembro, sem sobra de tempo. Tenho deixado a luz derramar-se nas frinchas e vivo o fingimento do tempo a par do fingimento da primavera. Como se eu fosse uma casa vazia, na qual permito que a luz habite rasteira ao chão quando a janela se abriu por uma pequena e insuspeita brisa. Tem-me bastado esta luz para a felicidade de andar vazia.

Houve um enterro e um fim. Houve o norte e o mar.

Fiz uma viagem, um comboio, uma estação. Coimbra-B. Curvei vinte anos numa tarde, num encontro retorno no tempo. Voltei para sul que é onde se faz o vazio e o futuro. O meu de casa devoluta, por uns tempos.

Ainda fiz uma manhã de domingo em Lisboa. Sentei-me na esplanada da Biarritz a esperar a hora certa e o café e descobri que ainda tocam sinos em Lisboa, ainda se aperaltam certas senhoras, ainda se sente esta cidade no silêncio nu de algumas manhãs.

Leio o mesmo livro há muito tempo e faço planos impossíveis de histórias a meio.

Ando feliz como se esperasse o verão. Sem buraco de tempo. A noite a teimar em não me deixar aceder à Linha e eu a acreditar que há ordem perfeita para o vazio. Incapaz de saber da chuva e do frio.

Casa devoluta presa ao tempo.

2 Comments:

At 12:43 da manhã, Blogger JPN said...

"ando feliz como se esperasse o verão". vou colar esse post-it na ialma. é assim quer me sinto. e achei curioso a Biarritz. era lá que eu e o pedro iamos há uns anos, vinhamos a pé da tartaruga e da lebre e no caminho para casa, tudo a pé, parávamos por lá a comer um queque e um copo de água.

 
At 11:10 da tarde, Anonymous Anónimo said...

São essa curvas de 20 anos em que nos re encontramos ( em marcha atrás, talvez, e com um retrovisor no ombro)

 

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