domingo, agosto 05, 2007

chapéu azul


Nada houve de particular no dia de hoje. De manhã, enquanto tomava o café forte em frente à portada da varanda aberta, a varanda dos agapantos já secos, antevi o meu chapéu azul. De palha, azul forte e quente. Pousado na cadeira. Nunca usei o chapéu azul. Achei, por dentro, que seria hoje. Que poderia celebrar o começo vagaroso de férias, usando o chapéu. Gosto destas celebrações imperceptíveis ao mundo e que pouco mais são do que pequenos arrojos. Hoje, seria o dia do chapéu azul !

Depois dou comigo a pensar que um dia, uma das minhas filhas, poderia escrever : “ lembro aquela manhã de Agosto, em que a mãe acordou, pôs o chapéu azul e irradiava uma felicidade quente… “.

Nós vivemos para fazer a memória dos filhos. Ás vezes acontece-me viver essa dualidade de viver e tentar a evocação do que vivo. Ás vezes acontece-me perguntar de que memória de mim, de que instantes de mim nelas ficarão? Sabendo que são sempre os mais insuspeitos, hoje achei que seria o chapéu azul. Quase certa. Por isso achei que elas iriam perceber que o arrojo do chapéu azul seria a maneira indizível de dizer: estou inteiramente disponível para a felicidade.

2 Comments:

At 12:51 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Um gin Bombay fica sempre melhor com o chapéu.

 
At 11:01 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

por acaso nunca tinha posto as coisas assim. a imaginar a memória deles. tenho a mania é de imaginar a minha memória, em certos momentos pressentir que aquela felicidade, aquela paz, aquela luz, aquela dor, me prenderão para sempre aquele dia e à vida.

 

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