Generais
Muitas vezes no essencial discordamos, pronto. Se isso acontece com os casais e entre amigos de sempre, porque não com os irmãos de sangue? Porque haveremos de continuar a lutar, dissuadindo-nos mutuamente, pelo que não ganharemos nunca?
Nascemos em tempos diferentes, morreremos assim (perfis equidistantes!) por mais que o não digas. Aceita que bebamos uma garrafa até ao fim como dois velhos Generais de herança apenas sumária, em silêncio, sabendo que ambos não nos entenderemos no avulso dos simples com a linha que luta indecisa, mas incisiva sobre as nossas fronteiras, que são, sabemos hoje, pequenas sombras quando discutimos, por exemplo, a melhor forma de regar as laranjeiras.
Mas somos fiéis pelo sangue. Estaremos sempre solidários nas tarefas do que sabemos ser alfa e beta, porque o aprendemos desde o berço. A mesa da casa merece que nos entendamos numa mesma estratégia com todos os soldados disponíveis. O único valor que nos preserva, intacto, (esse sangue do mesmo sangue), diz-me que estaremos sempre juntos, mesmo cambaleando dissabores, podendo-o depois ir dizer por egoísmo, cada um à coluna dos seus homens, que esperam, ansiosos, distintas ordens para nos poder dividir, coisa que sabemos que não queremos.
Chega cá o copo. Estamos entendidos. Cada um na sua identidade antes desta conversa.
2 Comments:
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Ardendo até ao fim, como as velas! Essas relações duras e perenes, que Sándor Márai tão bem descreveu em "As velas ardem até ao fim". Bonito este texto escrito em Coimbra.
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