sábado, abril 21, 2007

desfazer as malas V (e último)

começou por ser um livro difícil e só avancei porque se me haviam esgotado as alternativas. mas, a certa altura, começou a prender-me e, aquela história que parecia descabida, profundamante bizarra e de mau gosto, começou a sugerir um dejá vu que só passado algum tempo percebi de onde vinha: a cena central do livro (a vida dos cegos proscritos) assemelha-se muito às descritas nos livros de quem viveu o holocausto por dentro ("Se isto é um homem", de Primo Levi, ou "Sem destino" do Nobel Imre Kertész). uma natureza abjecta, inumana mas, de todo, não ficcional, que emerge dos homens em situações limite.

ainda jaz no fundo das malas este livro que deixei a meio quando se me acabaram as férias. mas não resisti e já fui ler o fim. depois do horror, os cegos recuperam a visão e concluem (com a habitual percepção penetrante das personagens de Saramago): "Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem".

Etiquetas: , , ,

2 Comments:

At 3:36 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Li. Tenho. Vale pelo fim que nos cega a todos sem escolha possível.

 
At 11:23 da tarde, Blogger JPN said...

comecei por ler, também abandonando a meio, e depois por ver, dias a fio, o espectáculo que o bando montou a partir deste texto. hoje é uma obra muito familiar, sobre a qual me lembro muitas vezes para tentar compreender coisas.

 

Enviar um comentário

<< Home

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!