terça-feira, março 27, 2007

Christine Garnier



15/SET/1951
Christine Garnier ficou alojada na Pensão Ambrósia, em Santa Comba. Virá todas as manhãs conversar comigo.

19/SET/1951
Continuei a falar para Christine:
O isolamento muito me ajudou, na verdade, a desempenhar a minha tarefa e permitiu, no passado como hoje, concentrar-me, ser senhor do meu tempo e dos meus sentimentos e evitar que fosse influenciado ou atingido.

20/SET/1951
Falei verdade à francesinha, mas não disse a verdade toda. A minha vida interior não se reduz a preocupações de ordem intelectual. Comporta frequentemente imagens mais profanas. Imaginar Christine a despir-se, expondo progressivamente o seu corpo elegante e perfumado tornou-se uma das minhas fantasias.

16/NOV/1951
De certo modo, é bom que esteja longe. Posso ver claro.
Tenho sessenta e dois anos. Estou velho ou, pelo menos, vou a caminho disso. Casar com Christine é impensável. Ela ainda nem sequer se divorciou. Nem a maneira de pensar do país nem os meus hábitos arreigados o permitiriam.
Abandonar São Bento e segui-la para França havia de ser uma deserção. E depois, viveríamos de quê? Do que ela ganha? Não está prevista reforma para o meu cargo. A Universidade de Coimbra havia de me dar alguma coisa. Chegaria talvez para nos sustentarmos em Santa Comba, mas não em Paris.
Tudo acabará em breve, mas não me arrependo de nada. Durante toda a vida fui contendo as emoções. Desta vez soltaram-se. Bem haja!

Trabulo, António, O Diário de Salazar

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