sexta-feira, março 23, 2007

ventana de emergência


Ventana é janela de vento, assim quero eu! Como se houvesse um comboio cinzento que perfurasse o vento junto às águas cinzentas. Não sei de onde parte o comboio nem a onde se destina. Vai. Por entre cinzentos fortes e ventos quentes.

Não é preciso saber os pontos que ligam um comboio, é preciso que haja um movimento que corte o vento. Só.

Está feito o comboio e a ventana. A emergência vai comigo na mala, junto ao livro e seguramente ao maço de cigarros. Não se apanha este comboio, está-se nele. Só.

Feita a construção, permito-me ao detalhe. Arrozais, extensos arrozais. Água cinzenta que espera. Passagem do comboio.

Feita a construção e o detalhe, falto eu. Emergência sou eu, ventana é o que procuro. Para pousar no movimento do comboio que atravessa arrozais infindos. Vietname, imagino assim.

Estou encostada à vertigem da água que passa kms à hora. Será assim que encontro a velocidade zero? Dois movimentos à mesma velocidade com sentidos opostos não originam uma velocidade zero? Não interessa a exactidão da física. É assim que quero no comboio do Vietname.

O comboio tem cinco carruagens velhas. Em nenhuma está alguém. Apenas eu encostada ao vidro. De pé com a emergência sentada ao lado. Ambas cobiçamos um cigarro. Dou-lhe a primazia de ser a primeira a fumar. Depois da emergência, fumo eu. Como assim o tempo não acaba, as águas não fogem, o comboio não pára e eu vim fazer vagar. Posso permitir-me à simpatia. Encostada à janela. A focar o olhar.

Atravesso e atravesso-me quieta. Até ao anoitecer. Há mosquitos, muitos mosquitos, imagino eu. Poucas luzes se vislumbram ao fundo dos arrozais. Quantas vezes teremos já passado pelo mesmo ponto? Incertamente, nenhuma. Vento quente. Pele húmida.

Atravesso. Aqui vou eu... pouco certa de mim. Ventana.

1 Comments:

At 11:13 da tarde, Blogger j said...

Certamente que é bom ter Sta Apolónia de volta á linha.

 

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