Dinis77molero
Dinis Machado, o Eremita das Mãos Frias que ninguém sabia onde se encontrava, lá onde um pequeno rio corria ao contrário, foi encontrado hoje porque fez anos, 77, o ano da 1ª edição de “O Que Diz Molero”, essa bíblia da nossa geração.
Li a entrevista do Público. Fumei cigarrilhas para estar no ambiente. Registei que «há livros que têm a sorte de ser uma espécie de eco de geração. Esse parece que é. Acredito na sorte.»
Agora que parou, as frases continuam a surgir-lhe na mente?
«Aparecem. Estou sempre cheio de frases. Coisas que não têm aplicação. É uma espécie de exercício que eu tenho. E que faço com facilidade e prazer.»
Não adianta buscar no velho livro as palavras que demoraram dois anos a compor. «Escrita muito rasurada, emendando sobre o texto original para aproximar a palavra do sítio onde deve estar.»
Custou-me perceber na entrevista que é um homem quase arrumado num maple, ar doentio, tossindo imenso, quase derrotado, salvando-se já só a lucidez de quem diz que a saúde que lhe resta chega para combater na área que lhe é específica. Um Bowen ou um Burke dos 110 assaltos à espera de um soco de Willard, «daqueles que levam neles o fim de tudo, os socos combinados de tempo, força, certeza e sorte…».
Antes que o último cigarro se lhe apague nos dedos e passe a ser mais uma estrelinha ao pé do Piaçaba ou do Torrão de Alicante, esperemos que entregue à nossa geração o relatório de Octopus, que ele prometeu começar onde Molero acabou.
1 Comments:
também me incomoda u bocado sentir DM assim fisicamente decadente... mas talvez ele tenha direito a isso, depois de tanto andar e andar.
quanto a recomeçar onde Molero acabou, já te disse: se alguém é capaz disso, és tu.
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