HIERARQUIAS COPY & PAST
Entrou sem convite na exposição porque a porta estava aberta. O Presidente da Câmara, vestindo bom corte com o suplemento que o ordenado lhe atribui para o efeito, arranjo floral na mesa e power-point a ajudar, discursava a biografia, o mérito da obra e do autor. Lia um texto que lhe foi dado pelo chefe-de-gabinete, que o tinha pedido para escrever ao adjunto, que copiara sem pudor frases inteiras do trabalhinho do secretário, texto roubado por este ao assessor cultural.
Foi este que entrou. Espreitou. E ouviu repetidamente no discurso do Presidente – João Freitas Monteiro – suposto nome do autor. Não era. Chamava-se João Fontes Mettelo. O morto não falou. A família Fontes Mettelo, educada, nem pestanejou.
Decidido, pegou no telefone e ligou ao seu “chegamisso” de serviço:
- Nunca mais quero os Portos d’Honra antes das cerimónias e muito menos agendados para o final da tarde!
- Que quer? – o Presidente vinha cheio de sede depois do almoço, passou a tarde aqui no bar! – disse o “chegamisso”, fincando os queixos no último branco ainda fresco ao pé das aparas de presunto e das broas de mel que ofereceu a filha do defunto.
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