terça-feira, fevereiro 21, 2006

PEREGRINAÇÕES A COIMBRA B

É frequente e acontece. Tocam a campainha. Entram. Cada um sozinho dos outros. Sentam-se pela sala. Avivo a fogueira, trago copos, abro a pérola mais recente, saco do queijo e do presunto, junto o frasco de azeitonas, pão moreno, ligo o televisor. Começa o jogo. Ganhamos e perdemos, mas acabamos sempre com uma piada final. Noite alta. Mais alta e mais feliz quando ganhamos.

É raro e acontece. Telefona antes. Diz que vem. Entra. Senta-se no sofá da lareira. Avivo-a, trago dois copos, gelo, limão, tónica e um contentor de gin. Desligo o televisor e entra música escolhida da estante. Sento-me no meu sofá à Nero Wolfe, do Rex Stout e abro a caixa das cigarrilhas com música de caixa de música. Começa a conversa. Intensa para quem está. Saltam livros, discos, fotos e desejos de viagens. Acabamos sempre com um poema final. Manhã baixa. Mais baixa e mais feliz quando ficamos.

ACABASTE?

- Acabaste?
- Meu amor, acabei.
- Apagaste a candeia? apagaste?
- Meu amor, apaguei.
- E fechaste o postigo? e fechaste?
- Meu amor…, sim, fechei.
- Que rumor é aquele? não sentes?
- Meu amor, que te importa?
É a vida a dar socos na porta.
É lá fora. São eles. É o mundo. São gentes…
- São gentes?! quem são?
- São colegas, amigos, parentes…
- Vai dizer-lhes que não! vai dizer-lhes que não!

Régio, José, As encruzilhadas de Deus

1 Comments:

At 11:42 da tarde, Blogger H em Stª Apolónia said...

É raro mas acontecerá. Telefono antes.Digo em que comboio chego.

Há peregrinações que se devem cultivar...

Toco a campainha.

 

Enviar um comentário

<< Home

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!