domingo, fevereiro 15, 2009

uma boca ao lado...

Vem tudo a propósito de coisas pequenas e simples.

Da suspeita de uma amiga que deve andar com a alma, ou talvez a vida, sombraeda e eu só pressinto a suspeita e não sei da verdade. Antes, tinhamos as cartas imensas, de tinta azul a trilhar papel, falávamos de tudo como se tivéssemos apreendido a falar connosco na tinta das cartas. Havia a demora de falar no cansaço das mãos, havia o tempo de expedição, havia a lonjura. Mas havia a intimidade.

Do reencontro virtual de um amigo, que foi uma pessoa fugaz na minha história, mas suficiente para ficar eterno, passados quase vinte anos, o qual me dizia em texto sem tinta, ter medo de me reencontrar pelo medo do tempo. “ O que tu me trazes de mim é incalculável”.

De ambos sei o paradeiro nos blogs, os leio com o vagar de os saber. Sei-os, sem intimidade. Reconheço-os.

É agora tão mais fácil e democrático falar. Escrever. Dizer. É tão mais fácil agora saber de dentro dos outros, é tão mais fácil dizer de dentro. Tudo isto é uma incontestável verdade. Mas em tudo isto falta o corpo, a inqueitação das mãos, a pausa e traição da postura, o timbre da voz, o lugar da ocultação tão próxima das palavras. Os olhos. A intimidade.

A nova facilidade de comunicação, perdeu o corpo e, nele, os olhos. Tornou-se fácil porque não tem confronto.

Acho bonito este fingimento democrático de falar, de debater, de ser sincero com ou sem honestidade.

Mas também acho cada vez mais gostoso e prazenteiro uma boa conversa, um pousar de corpo com palavras e olhares. Se digo um copo de vinho, é porque como ele, é preciso respirar e encorpar as palavras. Decantar. Fazer as sombras. Deixar a voz. Esconder as mãos. Acender o cigarro. Deixar o sal da sabedoria e em torno de tudo isto, fazer a intimidade. Saber dos meus.

2 Comments:

At 12:22 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Talvez nas Preces... saber dos nossos!

 
At 9:29 da tarde, Blogger Isabela Figueiredo said...

Olha, provavelmente não estarás a falar de mim, mas de qualquer maneira informo que sou a pessoa mais disponível do universo aos sábados, que tenho imensas saudades de falar contigo e que continuo sem manias nenhumas. Sou exactamente a mesma pessoa, com menos complexos, falizmente. Mais velha, é verdade, mas muito mais gira. Um beijinho e vê lá se arranjas tempo para nos encontrarmos deste lado ou em Lisboa e traz os teus putos. Também podes cá vir a casa.

 

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