Do corpo
As mãos que ainda uso têm a pele seca como a crosta do barro antes do arado. Já fizeram coro com quase todos os poemas escritos. Nelas há três ou quatro dedos que já não sei para que servem: cinco ainda coçam os ombros, dois seguram cigarilhas, outros cinco unem-se num copo de vinho como os manifestantes na avenida, dois ou três (não posso precisar) dançam sobre as teclas, dois apenas seguram selos a quem levam humidade para cartas inacabadas. Os olhos são velhos vitrais. Lembras-te quando ainda eram inacabados para a absorção da tua formosura? Agora são pintura! As entranhas estão gastas. O coração cheio de arestas. O fígado um passe-vite para massas espiral fusilli Milaneza. O estômago colecciona murros desprevenidos e cicatrizes do tempo em que celebrava no prato a festa das perdizes. Dar-te-ia um rim, doado com amor, se nele ainda tivesse filtro para filtrar, nem que fosse o último café de que contigo me lembro na esplanada de Copenhaga. A bílis expurga o último vento do caminhante, tão irresponsável como o nosso desejo de partir. A cabeça tem gigas de memória que nenhum computador pode suportar. As pernas que ainda uso têm um quebra-mar no andar, a dança do arrastar. Já foram velozes, quando veloz era a minha vida. Uns lêem droga no cabelo. Sem drogas no corpo, pronto, - tirando os teus olhos às vezes atentos -, como dizia o velho amigo Morgado «eu, que saltei muros de dois metros, tropeço agora num cabelo.»
As mãos que ainda uso têm a pele fina como o vidro dos cântaros de barro. Estão disponíveis para que delas se escrevam novos poemas. Sei dos dedos todas as funções: apertar-te as mãos, colher-te frutos, discar o teu último número do telemóvel e com eles acabar as cartas inacabadas. Os olhos são espelhos. Que tempo aqui te demoras a ver-te? Agora são o teu godé das pinturas! As entranhas estão vivas. O coração redondo como os teus seios. O fígado uma esponja que usas para o banho. O estômago uma ânfora onde guardas os untos mais delicados. Dou-te um rim, doado com amor, com filtro para filtrar o último café na esplanada quando formos a Copenhaga. A bílis retém o desejo de ficar. A cabeça tem gigas livres de memória para que o futuro registe os caminhos que faremos. As pernas que ainda uso têm um quebra-mar no andar, a dança do desejar. Ainda velozes, quanto veloz é a minha vida. Uns lêem droga no cabelo. Com drogas no corpo, pronto, - os teus olhos às vezes atentos -, ignorando o velho amigo Morgado «eu, que saltei muros de dois metros, tropeço agora num cabelo.»
As mãos que ainda uso têm a pele fina como o vidro dos cântaros de barro. Estão disponíveis para que delas se escrevam novos poemas. Sei dos dedos todas as funções: apertar-te as mãos, colher-te frutos, discar o teu último número do telemóvel e com eles acabar as cartas inacabadas. Os olhos são espelhos. Que tempo aqui te demoras a ver-te? Agora são o teu godé das pinturas! As entranhas estão vivas. O coração redondo como os teus seios. O fígado uma esponja que usas para o banho. O estômago uma ânfora onde guardas os untos mais delicados. Dou-te um rim, doado com amor, com filtro para filtrar o último café na esplanada quando formos a Copenhaga. A bílis retém o desejo de ficar. A cabeça tem gigas livres de memória para que o futuro registe os caminhos que faremos. As pernas que ainda uso têm um quebra-mar no andar, a dança do desejar. Ainda velozes, quanto veloz é a minha vida. Uns lêem droga no cabelo. Com drogas no corpo, pronto, - os teus olhos às vezes atentos -, ignorando o velho amigo Morgado «eu, que saltei muros de dois metros, tropeço agora num cabelo.»
2 Comments:
Aha!!!
Obrigadinho, colega.
Um abraço serve-te?
no apeadeiro de miramar. jó
liiiindo
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