Porosa vida
As datas que adiamos, porosas como a carcaça de uma navalheira. Assim anda a nossa vida. Passamos recados uns aos outros como senhas de presença, a fugir, fugir. Dissonância funcional, fazer fumo a pensar em fazer fogo. É um jogo com regras da arca dos tempos, sensual, desejoso de jogar, porque carrega sempre a pergunta «quando será?» E todos respondem «é ali, deixa fazer um pouco de sombra, há tempo de sobra!». Esta porosa correria é o nosso destino. Tão ínfimo e tão precioso como a quantidade de água no bico de um pássaro. Ainda bem, jogo bom, que só no essencial nos precisamos.
4 Comments:
Que raio de cultura a nossa! Não consegui ler este delicioso e sentido recado sem ficar com uma pontinha de remorso. Toca-e-foge? Inconsequência? Por mim, são só mesmo os 40 anos de uma amiga que não se repetem e que, acontecendo a 26, são celebrados a 1. Se me deixares vou agarrar no teu recado e levá-lo para um canto cá do sul, posso?
Abraços, ainda virtuais
É só provocação, Cristina. «É só fumaça», como dizia o Pinheiro de Azevedo!
Eu sei, caro David. E nesse sentido reagi, provocada. :)
Mas, sabes, penso muito nestas relações virtuais e no que podem significar de preenchimento de vazios, de efemeridade...O FJV tinha um post a semana passada sobre isto, em que defendia a necessidade do cheiro e do olhar. Eu acrescento o toque e o som da voz e do riso e os sorrisos. E apesar de verdadeiros, os entusiasmos iniciais vistos à distância parecem um "fogo fátuo".
Mas acho que vamos arranjar um compromisso de almoço num tecido menos poroso.
Abraços
"Porosa vida" é bonito demais para registar as nossas ausências, imagino-o como título para as nossas presenças. Existirão?
~CC~
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