sexta-feira, outubro 05, 2007

Resistência

O verbo na saliva da palavra não me é gasto ainda. Continuo de peito feito. Chamam-me os deveres e cumpro. Chamam-me os prazeres e digo presente. Chamam-me as injustiças e ergo a lança (que é o coração a querer sair pela boca!) e digo. Quando imaginei em criança esta idade, era a imagem de um homem seguro, segurado por um bom seguro, vida a viver numa apólice que a Deus pertenceria. Na infância não há destino nem tino. Há uma roleta que nos coloca do lado dos bons ou dos maus, mais ou menos cálcio na coluna vertebral. Hoje, num jazigo de coerências, fui um nó de garganta. Uma pinha acesa na paveia. Um índice incontrolável da bolsa. A forma plena de um beijo antigo, que permanece no lenço da noiva que fugiu a caminho do altar. Um coração diferente num galo de Barcelos. Uma conta a mais, que não contava, num rosário contado por várias gerações. Um bilhete de ida-volta-ida, como quem não tem regresso, mas sempre um caminho para cumprir.
Os que têm medo não me chamam, pensam que ando a dormir. Não ando. Faço a sesta, cama curta, no tamanho da sombra que não fazem. Quantos somos ainda?

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