quinta-feira, outubro 04, 2007

memórias: aos amigos D e H


"(...) Ah, quem sabe, quem sabe,
Se não parti outrora, antes de mim,
Dum cais; se não deixei, navio ao sol
Oblíquo da madrugada,
Uma outra espécie de porto?
Quem sabe se não deixei, antes de a hora
Do mundo exterior como eu o vejo
Raiar-se para mim,
Um grande cais cheio de pouca gente,
Duma grande cidade meio-desperta,
Duma enorme cidade comercial, crescida, apopléctica,
Tanto quanto isso pode ser fora do Espaço e do Tempo?

Sim, dum cais, dum cais dalgum modo material,
Real, visível como cais, cais realmente,
O Cais Absoluto por cujo modelo inconscientemente imitado,
Insensivelmente evocado,
Nós os homens construímos
Os nossos cais nos nossos portos,
Os nossos cais de pedra actual sobre água verdadeira,
Que depois de construídos se anunciam de repente
Coisas-Reais, Espíritos-Coisas, Entidades em Pedra-Almas,
A certos momentos nossos de sentimento-raiz
Quando no mundo-exterior como que se abre uma porta
E, sem que nada se altere,
Tudo se revela diverso. (...)"

da Ode Marítima, de Álvaro de Campos

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2 Comments:

At 1:05 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Lembro. Recitei isto a corridinho de gin, corrigido à voz atenta de um bom louco(Fred, ali numa passagem-de-ano perfeita. Tábuas! Viva a Sra. da Piedade!

 
At 1:16 da manhã, Blogger Helena (em stª Apolónia) said...

Se lembro... o frio, o gin, a garrafa escondida na capela... D recitou, mas eu acho que andei a fazer qq coisa num palco fingido. De negro. Com frio.

Obrigado, M.

 

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