Talasnal
Só lhe dei verdadeiro valor quando acabou a peregrinação anual à casa, à fonte e à eira, o fim das passagens-de-ano e das viagens regulares com HR (a sua morte!) e PR e quando tive que sobre a aldeia escrever. “Os Campos” tem texto no «há uma flor debaixo daquela pedra», livrinho que mudou de nome por quase-auto-sugestão, depois de sugestão de M, onde guardei para os amigos estas palavras:
Lá apetece cantar o que paira nas ruas e, na eira, há uma lousa de xisto mais velha, talhada do monte ao longo do tempo pela brisa que faz dançar os castanheiros. Nessa lousa podemos sentar-nos a fiar os dias, enquanto o sol nos leva do Trevim ao castelo na vertigem das horas.
Talasnal ficou-me marcado na pele com o campo do “circo”, - H terá memória suficiente para nos dizer um dia! - e umas passagens-de-ano onde a nossa geração ganhou uma revolução de veludo. Sei por escritura pública que tenho um bocadinho de xisto no Talasnal. Sei pelo coração que logo abaixo da eira tenho um talhão ávido das minhas cinzas para ir directo ao céu ou, como desejo, a levitação num fogo-fátuo para uma estrela de Molero como um balão desprendido do seu cordel. Ainda ouço com os olhos bem fechados as tuas palavras no escuro das casas desabitadas, «deita-te para aqui, não me vês?», coço-me muitas vezes próximo às 5 da manhã do colchão-chão-de-pó onde dormíamos (a hora a que ele chegávamos!), o último cigarro quando fumávamos e tu a fazer a cabeceira com os livros que connosco viviam felizes por serem lidos. Lá, num verão quente, também vivi um amor entre os castanheiros, outros colchões-chãos-de-pó, (ouvia-se sempre um acorde de viola acordada ainda na eira!), comíamos tartes de amora e deixávamos segredos escritos nos sacos-cama como se salmos de uma nova Bíblia estivessem a ser escritos para novos crentes. M trouxe-me um desafio. A ela prometo: breve, muito breve, vou ao Talasnal com o coração, nunca com o registo predial.
Lá apetece cantar o que paira nas ruas e, na eira, há uma lousa de xisto mais velha, talhada do monte ao longo do tempo pela brisa que faz dançar os castanheiros. Nessa lousa podemos sentar-nos a fiar os dias, enquanto o sol nos leva do Trevim ao castelo na vertigem das horas.
Talasnal ficou-me marcado na pele com o campo do “circo”, - H terá memória suficiente para nos dizer um dia! - e umas passagens-de-ano onde a nossa geração ganhou uma revolução de veludo. Sei por escritura pública que tenho um bocadinho de xisto no Talasnal. Sei pelo coração que logo abaixo da eira tenho um talhão ávido das minhas cinzas para ir directo ao céu ou, como desejo, a levitação num fogo-fátuo para uma estrela de Molero como um balão desprendido do seu cordel. Ainda ouço com os olhos bem fechados as tuas palavras no escuro das casas desabitadas, «deita-te para aqui, não me vês?», coço-me muitas vezes próximo às 5 da manhã do colchão-chão-de-pó onde dormíamos (a hora a que ele chegávamos!), o último cigarro quando fumávamos e tu a fazer a cabeceira com os livros que connosco viviam felizes por serem lidos. Lá, num verão quente, também vivi um amor entre os castanheiros, outros colchões-chãos-de-pó, (ouvia-se sempre um acorde de viola acordada ainda na eira!), comíamos tartes de amora e deixávamos segredos escritos nos sacos-cama como se salmos de uma nova Bíblia estivessem a ser escritos para novos crentes. M trouxe-me um desafio. A ela prometo: breve, muito breve, vou ao Talasnal com o coração, nunca com o registo predial.
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