quarta-feira, agosto 29, 2007

Regresso

Andei por aqui perto, sentiste se o quiseste sentir como quem desfolha o calendário dos saberes, escondido entre as coisas que enchem de prazer as almas inanimadas, mesmo que não estivesses atenta à chuva do verão (que era eu numa nuvem de passagem) ou uma lânguida lâmina de fogo que não tenho culpa de mediaticamente acrescentar terror à paisagem. Nada tenho a ver com o fogo na Grécia. Sei apenas das maçãs vermelhas na macieira do lado de lá do muro. Tudo um sonho grande para partilhar. A conta escondida no banco da Suíça. O ‘voucher’ completo para os 15 dias em Alexandria, mafiado em dólares falsos no bar «Absinto» pela mesa posta na esplanada do hotel no Quénia. Entravas comigo no jeep, apontavas o gps para Algeciras e Fez, trocavas as primeiras duas letras, andas ou nadas na areia de Erfoud, deixavas o coração ir dormir ali longe ao lume aceso na casa do frio de Dezembro. Revias a fotografia com o grão de antigas sensibilidades. Continuavas sem anéis, não és de igrejas. O baralho que querias tactear, que já sabias pelos filmes viciado na mesa verde de Las Vegas (outras aras) e a sueca da praça de Malmöe, ciúme que guardaste entre dois barcos e a quem respondes com lambidelas em selos de correio.
M descarrega livros e estou com ela na indigestão da Agustina (salvo o Sebastião José por capciosas notas de trabalho) e na mesa cheia e inteira que nos proporciona José Luís Peixoto. H ainda cheira a lavanda, o «terroir» que um dia conheci de St. Emilion a Sauterne e que ainda guardo na boca como um desejo de um beijo de princesa que chegue decisiva à flor dos lábios. Acrescentas mais? Acrescento. O fermento do trabalho a que regresso. O laço a que pertenço sem o Aurélio que, ontem baleado e sem eu saber, me protegeu – presunção minha! - de algumas noites de Campanhã onde fui feliz. Depressa virá a magia nas mãos. Outros cais de Setembro onde o mundo nos arredondou a palavra e o destino. Cada vez mais vou aprimorando os traços que me traçaram. Uma linha já quase absoluta, não fossem questionáveis as tuas dúvidas e os meus erros casmurros a dizer-te que ainda há tempo para outras vidas. Tu que sabes tantas coisas, que me educas quase todas as incertezas, sabes como se faz o fermento que me faz crescer como um pão-de-água? Não sabes? Descarrega mais livros, fecha em frascos pequenos cheiros de lavanda. À vossa chamada estarei no cais como um barco tranquilo. Os remos ao alto às ordens de marear. A popa num aconchego. A proa num destino para traçar. O que vês nos espelhos são oásis, insinuados desejos, pleonasmos de pertença. Resta-me este vento que sopra forte a “lingerie” do primeiro andar, pendurada provocante ao sol na varanda. É a minha certeza, garanto, entre todos os outros desejos, mesmo os dos espelhos. O único que me é sexy, porque sei a quem pertence!

1 Comments:

At 9:02 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

feliz e inspirado regresso

 

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