terça-feira, abril 03, 2007

Conversas


O único índice mensurável nas conversas é o que nos mede os rigores do seu apetite. Conversar é adicionar especiarias às palavras quentes, delicadas pétalas de humor para quem o tem, corrosivo; folha de louro por um travo seguro, pimentão-doce se as queres adoçar logo à saída da boca, pimentando os lábios; um pé-de-salsa por cima, decorando o ambiente; dente-de-alho se as queres intensas; uma cabeça de cravinho como um ponto final quando se chega ao fim, misturado no brusco espanto das horas.
Bastaria este tempero, admitindo uma sugestão de orégãos por egoísmo, não fosse quem nelas admite apenas falar com um copo de vinho, que lhes fica sempre meio no fim, por muito perto do seu fim.
Um copo é um copo. Também gosto. Mas o seu excesso, o acumular de vinagre nas veias das conversas, espelhos quebrando espelhos, tiram-lhes o apetite.

2 Comments:

At 11:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá D em Coimbra B,

gosto das tuas palavras quentes, que sempre soubeste manter, como um pequeno fogo à volta dos quais juntas amizades,

Diz-me como posso instalar plugins, que nunca consigo?

 
At 1:54 da tarde, Blogger francisco carvalho said...

Muito bom. Texto superlativamente temperado.

abraço

 

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