sexta-feira, março 24, 2006

Pêndulo do olhar


Olhar é acto de aproximação ou desprendimento.

Quando aproxima, seguem-se-lhe os dedos, as bocas e os braços e os corpos entendem-se sobre o lugar antes apenas imaginado, para somar pele e suor e desejos construídos. E cria um diálogo em línguas novas, alfabeto de letras a partir de pétalas, que é preciso a cada novo momento trabalhar para fixar.

Quando recua, o olhar é paixão perdida, desprendimento, dor que cresce. Fixa o caminho que ficou, pestaneja, um passo à frente (uma última vez!) e muitos passos atrás, recolhe os dedos, as bocas e os braços e centra nos olhos um alfabeto de cegueira, letras feitas de pestanas, porque o tempo o desejo terminou.

Olhar pendular. Faço zoom, grande angular, ou digito apenas “pensar”?

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