quarta-feira, janeiro 25, 2006

A RELER, A RELER


(...)
- Bem, partimos no sábado!... Avisa tu o Silvério. Começou então o laborioso e pensativo estudo dos horários - e o dedo magro de Jacinto, por sobre o mapa, avançando e recuando entre Paris e Tormes. Para escolher o salão que devíamos habitar durante a temida jornada,duas vezes percorremos o depósito da estação de Orléans, atolados em lama, atrás do chefe de tráfico que entontecia. O meu Príncipe recusava este salão por causa da cor tristonha dos estofos; depois recusava aquele por causa da da mesquinhez aflitiva do Water-Closet!
(...)Enfim, partimos!
(...) - Irun! Irun! Nessa Irun almoçámos con suculência e entrámos silvando nos Pirinéus.
- As noites são horríveis, tudo negro, enorme solidão... E médico?... Há médico?
(...)Mas porque pára este infame comboio? Não há tráfico, não há gente! Oh esta Espanha.
-Oh! Que serviço! Oh que canalhas!... Só em Espanha!...
(...) Sacudi violentamente Jacinto:
- Acorda homem, que estás na tua terra!
Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o bigode, e veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, conhecer a sua terra.
- Então é Portugal, hem?... Cheira bem.
- Está claro que cheira bem, animal!

1 Comments:

At 6:47 da tarde, Blogger yoda said...

Sem duvida a reler. Uma obra prima da literatura portuguesa. Sublime! Tenho estado a ler, cada vez mais vagarosamente, tentando apreciar ao maximo o esplendor das palavras.

 

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