A minha NAIFA LAGUIOLE
D foi a Coimbra-B. Martini no velho bar, o relógio nas 18:42 (hora de comboio) e sombras de gente. Um velho de canivete em punho ataca uma maçã e no primeiro golpe fez luz: acendeu-me o bairro alto do Molero e vi, juro que vi, a naifada do camone ao Lucas Pireza e ao fundo do bar os Vai ou Racha num baile de imperiais, conta quem sabe. Naifas, sempre gostei de naifas. Em Rio de Vide eram utensílio certo para fazer barcos com as crocôdeas dos pinheiros, terra sem água com nome mentiroso. Cortei-me mais tarde de amores num canivete suíço, que abriu dezenas de cartas e que guardo de lâmina fechada até que outro correio apareça. Recentemente trouxe para casa uma SICO - Sociedade Industrial de Cutelarias do Oeste - para o pica e prova na Confraria do Queijo Rabaçal, o do Eça, da Cidade e as Serras. Mas tenho uma nova paixão: a minha nova naifa Laguiole, oferecida em Aubrac, no maciço central francês, com uma lâmina de operar e uma grande lição:
"Afin que jamais un Laguiole ne coupe l'amitié, n'oubliez pas de donner un sou à la personne qui vous l'offrira."
O velho vendeu-me a navalha por um cêntimo e paguei-lhe um arroz de cabidela na casa de pasto do outro lado da estrada. O sangue do arroz terá brotado de uma naifada mecânica. Quem o matou não trazia trocos de amigo.
Volto para a linha. Há que mudar a agulha! São horas de vocês passarem...
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