sexta-feira, agosto 31, 2007

Ponto de Partida

Vou-me embora. Tenho uma ilha para viver, na próxima semana. Nas ilhas não passam comboio, pois não? Deixei de ter situação. Tenho uma sobrinha nova e um rodeio de mar. Uma pele e uma alma para salgar. Até breve.

Ponto de situação

Não leves isto tão a sério como costumas e, por isso, não acredites escrupulosamente na mercadoria que transporta este comboio-correio. Conheces-me. Sabes que faço das palavras uma protecção como aquelas capas heróicas que nos caiem do monitor quando menos esperamos e nos protegem nos jogos informáticos, (às vezes dádivas de espadas, galões de diesel ou tiros de bónus!), mas ia para te dizer que a discussão que agora mais me envolve fica algures suspensa entre monotonia e serenidade. As casas e os dados do jogo da paixão, do sofrimento e da alegria, nada acrescentam de protecção à erosão dos dias, são vitrais com uma luz indirecta da memória; outras vezes o lençol de linho que já ali, amanhã cedo pela manhã, guardará suores frios de encantamento. Presumo que para o fim-de-semana nada mude – ganha a monotonia! Presumo que esta noite ainda encontrarei forças para tentar mudar – ganha a serenidade! Nisto ando suspenso. Ponto de situação.

quinta-feira, agosto 30, 2007

dizer dele

Gosto do jeito como parece que ele é feliz com a tristeza.

Tudo o mais nele me é óbvio: que escreve muito bem, que são bonitas as janelas e as conversas com o filho, que são ponderadas as reflexões e intensas as paixões sendo que, às vezes, entre um post e outro, deixo de perceber se está apaixonado ou a perder a paixão. Há coisas tão óbvias que me calam de as dizer. Como o arrepio da beleza ( e Bleza ) de alguns posts .

Mas se só pudesse dizer, dele, uma única coisa seria essa do jeito como me parece feliz com a tristeza. Como se a doçura também se pudesse evaporar assim quando chove por dentro. Como nos faz acreditar que doer é o mais bonito do respirar. Enganosamente ou não.

JPN faz-me pensar adocicadamente na tristeza. Quase invejosamente. A idade fez de mim arreeira, ou seja, deixou-me numa língua de areia entre dois mares menores. O mar da tristeza profunda e o mar da paixão intensa. Os dois, que já foram enormes e devastadores, quase se tocam e agora felicidade é estar nesse equilíbrio de um mar olhado a duas marés. Mas JPN põem-me a discutir comigo este princípio. Porque através dele me parece sempre tão bonito ser triste… e eu admito discutir axiomas. Sobretudo quando chove. Ou só quando alguém os deixa escritos e me engana com isso.


(Palavras que me saíram das mãos, um destes dias, depois de ler de enfiada os posts do JPN no Respirar o Mesmo Ar )

Despedidas que nos agarram pelos carris dentro…

Despedidas, a dor de riscar o território do fim. Despedidas dolorosas, violentas, enlouquecedoras, previsíveis, abruptas. Despedidas na noite, no último barco, na última carta, na última incompreensão, no primeiro silêncio intransponível. Despedir é iniciar definitivamente a memória.

Das minhas memórias de despedidas, duas tem particular beleza. Luz coada. Imensidão. Plenitude. Preservam a tristeza da felicidade. Aconteceram em estação de comboios. As despedidas dos ainda amores e as despedidas dos campos de férias. Em ambas a lei da gravidade impele ao abraço que um comboio com horário certo nos atravessará, enquanto o mundo se quieta para nos celebrar e a luz se derrama dourada mesmo que chova. O aperto na garganta, às vezes o choro como dilúvio, a hora certa do comboio a dizer que acabou ali a felicidade de amar. Um homem ou só um tempo.

Segunda, veio-me à pele o arrepio destas despedidas quando fui à estação, agora azul clara no lugar do nosso ocre, buscar a minha filha do retorno de um campo de férias. A mesma luz dourada, derramada no tempo. O mesmo nó na garganta, a mesma fúria de contradizer o fim que os impele a cantar até à rouquidão, a pular e dançar até ao fim da alma. A dor de ser feliz enquadrável numa estação de comboios. O relógio redondo, em surdina, a atravessar o tempo minuto a minuto. A fazer, minuto a minuto, a memória leve do que ainda é intenso, imenso e infinito.

Certo, certo é que ninguém poder ser inteiramente feliz sem que não lhe caiba, por dentro, uma destas despedidas de felicidade.

quarta-feira, agosto 29, 2007

Regresso

Andei por aqui perto, sentiste se o quiseste sentir como quem desfolha o calendário dos saberes, escondido entre as coisas que enchem de prazer as almas inanimadas, mesmo que não estivesses atenta à chuva do verão (que era eu numa nuvem de passagem) ou uma lânguida lâmina de fogo que não tenho culpa de mediaticamente acrescentar terror à paisagem. Nada tenho a ver com o fogo na Grécia. Sei apenas das maçãs vermelhas na macieira do lado de lá do muro. Tudo um sonho grande para partilhar. A conta escondida no banco da Suíça. O ‘voucher’ completo para os 15 dias em Alexandria, mafiado em dólares falsos no bar «Absinto» pela mesa posta na esplanada do hotel no Quénia. Entravas comigo no jeep, apontavas o gps para Algeciras e Fez, trocavas as primeiras duas letras, andas ou nadas na areia de Erfoud, deixavas o coração ir dormir ali longe ao lume aceso na casa do frio de Dezembro. Revias a fotografia com o grão de antigas sensibilidades. Continuavas sem anéis, não és de igrejas. O baralho que querias tactear, que já sabias pelos filmes viciado na mesa verde de Las Vegas (outras aras) e a sueca da praça de Malmöe, ciúme que guardaste entre dois barcos e a quem respondes com lambidelas em selos de correio.
M descarrega livros e estou com ela na indigestão da Agustina (salvo o Sebastião José por capciosas notas de trabalho) e na mesa cheia e inteira que nos proporciona José Luís Peixoto. H ainda cheira a lavanda, o «terroir» que um dia conheci de St. Emilion a Sauterne e que ainda guardo na boca como um desejo de um beijo de princesa que chegue decisiva à flor dos lábios. Acrescentas mais? Acrescento. O fermento do trabalho a que regresso. O laço a que pertenço sem o Aurélio que, ontem baleado e sem eu saber, me protegeu – presunção minha! - de algumas noites de Campanhã onde fui feliz. Depressa virá a magia nas mãos. Outros cais de Setembro onde o mundo nos arredondou a palavra e o destino. Cada vez mais vou aprimorando os traços que me traçaram. Uma linha já quase absoluta, não fossem questionáveis as tuas dúvidas e os meus erros casmurros a dizer-te que ainda há tempo para outras vidas. Tu que sabes tantas coisas, que me educas quase todas as incertezas, sabes como se faz o fermento que me faz crescer como um pão-de-água? Não sabes? Descarrega mais livros, fecha em frascos pequenos cheiros de lavanda. À vossa chamada estarei no cais como um barco tranquilo. Os remos ao alto às ordens de marear. A popa num aconchego. A proa num destino para traçar. O que vês nos espelhos são oásis, insinuados desejos, pleonasmos de pertença. Resta-me este vento que sopra forte a “lingerie” do primeiro andar, pendurada provocante ao sol na varanda. É a minha certeza, garanto, entre todos os outros desejos, mesmo os dos espelhos. O único que me é sexy, porque sei a quem pertence!

terça-feira, agosto 28, 2007

Agosto letal

têm sido muitos, os mortos deste Agosto, mas eu só conheci este cujo sorriso, quase infantil, hoje iluminava as capas dos jornais da manhã. na madrugada passada estava sentado num muro e levou com 8 (oito) tiros. as notícias dizem: Aurélio, "patrão da noite" e há uma escuridão que envolve essa ideia. há um buraco negro que engole a imagem de uma pistola à janela de um carro e oito tiros à cabeça de um homem. mas depois o Aurélio sorri ainda à minha frente no metro. é o chefe dos seguranças das noites da queima. torna as nossas noites seguras com esse sorriso permanente: estudantes eufóricos são-lhe certamente um passeio no parque, quase serviço de baby-sitting. às vezes a escuridão insinua-se na memória: o mundo da noite será uma maldição fatal?

havia quase sempre um finalista de Medicina entre os teus homens. vinha sempre rápido quando havia um acidente. como é que desta vez ele não chegou a tempo? como foi Aurélio? M chama, Aurélio, M chama.

segunda-feira, agosto 27, 2007

handicap

tenho um handicap severo: não consigo gostar de ler Agustina. claro que não é obrigatório gostar de ler Agustina. mas eu gostava de gostar de ler Agustina. é que eu gosto da pessoa, da escritora, da figura, sem a conhecer, claro. gosto do que se diz dela, do que já ouvi dela, de a ouvir na TV, da sua gargalhada, estou quase como aquele senhora que um dia foi ter com ela e lhe disse: "eu gosto tanto, tanto, de si, que um dia ainda hei-de ler um livro seu".

só que, como gosto mesmo, já tentei ler-lhe um livro, dois, três: "A brusca", "Conversações com Dmitri e outras fantasias" e "Jóia de família". só me lembro do último, no qual marrei, marrei, marrei, até ter a certeza, lá para o meio, de que não ia conseguir gostar daquilo. num documentário sobre a escritora que há poucos dias pude rever no canal 2, depois de me deixar fascinar mais uma vez com o seu discurso, reparei que todos os ilustres entrevistados elegiam como seu preferido um livro diferente de Agustina, o que me deixou a pensar: será que apenas ainda não encontrei o meu livro? (talvez ainda tente o Fanny Owen, que tenho na prateleira e era o favorito de Pedro Mexia)

também gostava de gostar de Lídia Jorge mas, depois de um esforço descomunal para chegar ao fim de "O jardim sem limites", deixei quase no princípio "A costa dos murmúrios".

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a casa dos livros

dos dias que passei na estação da H guardo uma memória de banquete: prateleiras e prateleiras cheias de livros que pude folhear inconsequentemente, ao acaso, trazer para o sofá, devolver à prateleira ao fim de umas páginas ou degustar até ao fim. como uma visita à Fnac sem horas para nada, com bar aberto, cama à disposição e sem gastar um cêntimo. claro que, como acontece em férias decentes, li até ao torcicolo. só que desta vez não tive de fazer malas, era uma casa com livros incluídos. de todos, levei dois até ao fim:
  • O enigma de Zulmira, Vasco Graça Moura (Quetzal, 2002): o meu primeiro VGM em ficção, uma excelente surpresa. parece uma história de um outro Portugal com gente improvável e no entanto temos a certeza de que tudo foi quase assim. ler nas contracapas a lista de livros do autor é um exercício estonteante: como é possível ter escrito mais livros que anos de vida (tendo feito tantas outras coisas entretanto)?
  • Jerusalém, Gonçalo M Tavares (Caminho, 2005): o meu primeiro GMT... e sem vontade de repetir. confesso que caí numa esparrela: fui até ao fim pressionada por todo o extasiado falatório em redor do autor. estava a detestar mas ia lendo e pensava: isto deve estar mesmo a começar a tragar-se. mas nunca aconteceu. acho que me descobri mais um handicap.

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domingo, agosto 26, 2007

agosto em Lisboa

Há já uma semana que perdi o cheio a lavanda misturada com as páginas dos livros que li. Já há uma semana pousei o copo de tinto forte e não mais o enchi. Há já uma semana que os meus olhos se não perdem na vinha e não se quietam nos ruídos da terra a estalar agosto. Há uma semana vim, directa, a atravessar as férias e a Península. Cumprida dessa morte, necessária, de Lisboa.

Na manhã seguinte pus-me cedo na estação, olhar comboios e partir até rente do mar. Fui levar crianças esvoaçantes de felicidade e assustadas de incertezas a um campo de férias. Fui fazer comboios. Fui enroscar silêncios e emoções. Repetir viagens. Vim no comboio seguinte. Andei a desfazer a luz num dia em carris.

Não sei porque ainda aqui não vim escrever, mas talvez tão só por ter tido muitas coisas quase felizes a fazer e não querer perturbar essa ordem quase perfeita de Agosto.

Nesta semana muita gente morreu. Pessoas próximas de pessoas amigas. Morrer em Agosto tem qualquer coisa de estranho, porque Agosto é um tempo tão suspenso que acreditaria que suspendesse até a morte.

Hoje choveu para limpar Agosto e deixar cheiro a terra forte. Para ondular o rio. Para ventar Lisboa.

agosto em Langoiran































sexta-feira, agosto 24, 2007

os últimos livros das férias


contos de José Luís Peixoto (publicados este Verão a meias pela Sábado + Quasi): cómicos e light qb, o que - depois do "Cemitério de Pianos" (esse colosso da escrita) - demonstra a sua versatilidade.










este é o ano em que, depois do Nobel, voltei a ler Saramago. é um livro simples, parecido com o homem que escreve e muito diferente dos livros (aliás, aqui dificilmente se reconhece a escrita de Saramago). é um interesse recente este meu pelas biografias, pelo olhar que elas permitem sobre um passado que não vivi mas que, de tão recente, ainda reconheço.

ler os livros - prémio revelação dos livros das férias

"(...) o melhor que nós lemos, devemo-lo frequentemente a um ser que nos é querido. E é a um ser que nos é querido que primeiro falaremos. (...) Amar, é doarmos as nossas preferências àqueles que preferimos. E essas partilhas povoam a invisível cidadela da nossa liberdade. Somos habitados por livros e amigos."

(Como um Romance, Daniel Pennac, Asa 1993)

este é o livro que H me deixou de presente em Stª Apolónia (na sua casa habitada, como nós, por tantos livros e tantos amigos). é um livro sobre o prazer de ler e que enuncia os direitos inalienáveis do leitor: o primeiro dos quais é, precisamente, não ler (aliás, desde Fernando Pessoa, este é também o primeiríssimo de todos os prazeres).

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quinta-feira, agosto 23, 2007

Candeia

Já não acredito que seja um clarão.
Habituei-me a olhar-te por vénus,
ao fim-de-tarde
e essa é a pouca luz
que ainda te pode iluminar o caminho.
Conheço quase todas as estrelas
do hemisfério norte
e as essenciais para lá do Equador,
por isso,
só uma brasa me enganará do meio do fogareiro.
Ou um cigarro aceso
entre as tuas mãos
de que ainda não vislumbro
nem luz nem cheiro.
(E tenho o teu e o meu copo cheio!)


segunda-feira, agosto 20, 2007

o Alentejo e nós

à distância de um clique: Alcáçovas, com entrada directa para o mapa das nossas estações afectivas.

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domingo, agosto 19, 2007

restos II











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restos


museu da água

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regresso


dói ainda ser Verão quando se regressa, e estar frio, e terem-se acabado as horas pequenas de estar com os nossos (e às vezes isso ser como quem os conhece pela primeira vez). custa que o tempo passe indiferente à qualidade dos dias e que dele não seja possível reter mais que imagens que depois passamos o resto da vida a converter em palavras e noutras coisas que se possam agarrar.

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quinta-feira, agosto 16, 2007

Requebrar

Sobes a duna pelo caminho entre o estormo. Cheira bem. Cheira aos teus 15 anos, ao creme nívea e à toalha do banho. Ouves agora aquele som tão nítido, que só se repete como um quebra-mar lá longe, nas tuas outras paragens, de ouvido no ouvido dos búzios. Ainda há pedaços de alcatrão a agarrarem-se aos pés, essas «chiclettes» negras do Atlântico. Já te custa a andar na areia fina (que só os estrangeiros levam para guardar este tempo em clepsidras) e não te rebolas ao sol como nos outros tempos em que a única coisa que se protegia à sombra era o rádio para ouvir as chegadas do ciclismo.
O mar requebra. Bandeira amarela a dizer «cuidadinho!» e tu a pensares que já assinala ao vento o resto da tua vida, quase, quase no vermelho. Depois, lembras os seus olhos matreiros a chegaram-te pendurados de alegria nas pestanas como biquínis nos cordéis e, a teus pés, uma espuma branca servida numa concha, a tua juventude como tisana ou o que dela resta no caroço! Denguice do seu tempo das tranças e do teu, quando fintavas as ondas de fio de cabedal ao pescoço.




O Camões do Pomar

Acabei de ver na 2 um programa sobre Júlio Pomar e soube pela voz de Vasco Graça Moura e do próprio autor, que um quadro de Camões por ele pintado, pertença do Estado Português, anda por aí perdido nos arquivos do país. «Não acredito que tenha sido roubado» - disse o autor, já desprendido dele, como quem acredita que como D. Sebastião um dia há-de aparecer.
Na boa fileira dos actuais negócios do país, admito que seja já cromo na posse do agente desportivo Jorge Mendes, vendável a Berardo, para este o colocar no lugar do Rui Costa no losango do Benfica. Olho por olho. Velho por velho. Negócio por negócio.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Portugal Gourmet

Portugal em férias, descarregado compulsivamente nos areais por vontade ou exibicionismo, descobriu nos últimos tempos uma nova forma de olhar o Atlântico: descansado, sentado à sombra da mesa. São tantos os festivais de gastronomia, sardinhas, carapaus, marisco, febras e entrecosto, arremedos de “nouvelle cuisine” e outras artes… que os portugueses de férias assumem três posições: sentar, comer e dormir. No Portugal municipalista - mesmo aquele sem mar por perto dos que ficam resignados à luta dos dias! - não há Município, nem presidente-rei, que não organize um convívio gastronómico, não tire a gravata e os botões de punho e se abeire de uma pratada de caracóis, uma costela de leitão ou… depois de um rasto de flatulência, beba o cafezinho político na esplanada dos votantes, mulher ao lado com o bronze denunciando fora dali férias felizes, óculos na moda de olhar-de-mosca, filhos coloridos à volta da bicha como marionetas inocentes dos desejos paternais.
Mesmo que um búzio assobie no prato a decadência, o livro que não leu, a música que não sabe, Portugal é sinónimo de férias. Come o búzio e assim Portugal se descuida. Assim o povo iletrado guarda a fronteira e a madeira para a sua cadeira. Na “rentrée” – é assim que se escreve o galicismo? – tudo voltará às tarefas dos costumes. Até a ASAE, neste tempo corporação escuteira da higiene e salubridade pública, teimará em Setembro o rigor para que foi constituída. Neste verão, é rede franca de um faite onde, algumas doentias, passam pela frágil triagem todas as enguias. Em Setembro voltam a uma reles pescadinha de rabo na boca, que comida seria se no mesmo verão se pusesse a jeito. Coitado do búzio!

domingo, agosto 12, 2007

Torga 100

Quem escreveu muitas das palavras entre sementes, depois semeadas juntas e ditas rente à terra com o tempo da pouca água que sempre demora, porque, querendo-a límpida como o coração (antes filtrada à areia e à raiz das plantas e dos cânticos), não necessita de homenagens póstumas.
Valia mais, na sua arte de ortorrino, que os donos das gravatas e de cargos políticos, em vez de se degladiarem entre presenças e ausências, tivessem feito hoje – os que quiseram estar! - um minuto de silêncio sem discursos nem estátuas, escutando apenas a música que ainda emana dos seus ouvidos, folhear à sombra do dia os seus diários mesmo que os não compreendam em absoluto e cheirar os odores campestres que temperam a sua poesia preciosa. As coisas simples e decisivas da vida, como esta:

Instante

A cena é muda e breve:
Num lameiro,
Um cordeiro,
A pastar ao de leve;

Embevecida,
A mãe ovelha deixa de remoer;
E a vida
Pára também, a ver.

Torga, Miguel, Antologia Poética – Tomar, Setembro de 1941

sexta-feira, agosto 10, 2007

Linhas justas


Eis quando M decidiu encerrar Campanhã para ajustar com H as linhas em Sta. Apolónia. Coimbra B garante transporte alternativo aos passageiros. Sem elas, a linha é masculina. Na composição passará a haver vinho em abundância e presunto e queijo, pão de forno, tremoços e amendoins, calendários com gajas boas, passerelles divinas, uma stripper despida de revisor com voz de «oí caras, tudo bem? sê tem bilhete?», jogos de azar, anedotas de um gajo que as não sabe contar, vómitos, piriscas pelo chão, monitores cheios de jogos de futebol, jornais desportivos, parando em todas as estações e apeadeiros para podermos almoçar, arrotar e carregar o comboio de bebidas frescas.
Até 19 de Agosto vai ser um comboio de magalas. A bilheteira está aberta em Coimbra B. Aceitam-se inscrições por SMS. E o que H e M pagariam para viajar connosco. Azar delas. Silly season.

estação encerrada para férias

Campanhã encerra ao público. estarei em Stª Apolónia mas sem a H só farei serviço de rectaguarda. e Coimbra-B, aguenta-se?

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Antonioni II

no final da adolescência, entre mil outras prospeções inconsequentes, fui sócia do Cineclube do Porto. foi lá (numa sala no 2º ou 3º andar dum velho prédio da Rua do Rosário) que, sozinha, em fins de tarde de semana, vi filmes absolutamente alucinados ("Irei como um cavalo louco"), sórdidos ("Balada de Narayama"), ou infinitamente belos ("Nostalgia"). foi lá também que vi possivelmente o meu único Antonioni: "Identificação de uma mulher". desse filme só me lembro de uma única imagem: um homem e uma mulher a fazer amor. foi a primeira vez que vi "a cena primitiva", como dizem os psiquiatras. só então percebi que nunca tinha sequer imaginado em que posição é que a coisa funcionava (e que veio a ser um pouco diferente do sugerido pela "Lagoa Azul").

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quinta-feira, agosto 09, 2007

Antonioni I


um dia ofereceram-me um livro (de 1983, traduzido por Jorge Silva Melo!) do cineasta que diz "sou um realizador que escreve e não um escritor". é uma série de textos que nos sugerem imediatamente imagens e ambientes.

"A sensação que tenho quando o ouço é que o zumbido dos fios do telégrafo torna a paisagem impaciente."

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"Cidade Proibida"


foi um dos primeiros livros destas férias. li-o de um só fôlego, entre a voyerismo (o título não podia ser mais apropriado) e o desconforto. confesso: não consigo, ainda, evitar o desconforto que me trazem as histórias gay. talvez seja uma questão de tempo, ou de ler mais. talvez ler ajude.

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verão feliz

O mundo abriu-se em fenda em Agosto e das águas quentes, nasceu. Como um mar para reinventar. O verão tornou-se mais feliz. Faz hoje dez anos.

Já escolhi os livros. Já comprei um volume de tabaco. Já fiz as malas. Deixei-as prontas ontem que hoje o dia é de festa, de arrumo, de deixar recados espalhados nos lugares da casa que M vem habitar. Os livros a fingir a ordem, os papeis colados pelos armários com indicação do conteúdo… afinal tenho que lhe simplificar o exercício de respirar esta casa. O cheiro a iodo e sal, só às vezes e depende das marés. Vento, sempre em Agosto.

Já fiz a mochila. Fica em casa à espera do regresso e da partida na madrugada seguinte, da pequena R, que vai de comboio para o campo de férias.

Vou deixar as malas á noite no carro para restar para amanhã apenas o acordar, o cheiro do café forte e a volta no trinco. A estrada.

Preciso de fugir do mundo. Preciso de estar do outro lado. Preciso do vagar completo dos lugares estranhos. Preciso da descontinuidade. Preciso de morrer de Lisboa.

Amanhã não sabemos onde ficamos. Pararemos onde o mundo nos chamar. Dormiremos escondidos. Depois vamos apanhar o mar a norte, vamos arear entre San Sebastian e Biarritz . Vamos inventar romances em elegantes e decrépitas estações balneares. Eu ando a ler “ Kafka à beira-mar “ e alguma cadeira de lona me espera… temos duas noites vadias até chegarmos, segunda-feira, à casa grande na vinha francesa.

A casa fica no meio da vinha, no silêncio do campo, e cheira intenso a lavanda no lado norte da casa. A semana do vagar e do vinho. Dos livros e do bilhar à noite, do calor da terra a estalar e da uva a pintar. Do ruído da criançada misturado com o vento. De lá escreverei porque levo só duas tarefas para cumprir: organizar as fotografias das crianças e passar a papel as histórias que inventamos juntas enquanto choveu.

wanted


dá-se recompensa (a combinar :))))) a quem fornecer exemplar deste pequeno livro (oferecido com o jornal Público há uns meses e esgotado, quer no jornal, quer na editora Asa). tenho o meu, claro, mas precisava de oferecer alguns a uns quantos amigos, como quem dissemina uma vacina poderosa contra um vírus maligno.

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o mesmo livro

decidida a um percurso tipo Obras Completas, avancei para o meu segundo Amos Oz (terceiro se contarmos com o livrinho oferecido pelo Público). publicado três anos antes de Uma história de amor e trevas, "O Mesmo Mar" repassa, com outras personagens e outros enredos, a mesma atmosfera (basicamente o amor e as trevas). como se Amos Oz tivesse feito aqui um (primeiro?) ensaio do último livro, mas ainda sem coragem para dizer eu, de cada vez que fala de si.

ou como se fosse inevitável escrever muitas vezes o mesmo livro. ou o mesmo post, o mesmo poema, num eterno retorno. ou como se (dizia Claude Lelouch em "Les Uns et les Autres") na vida houvesse apenas uma ou duas histórias que se repetem, cruelmente.

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1 Ciúme

Um amigo foi a um casamento com ciúme. A noiva do acto rodou-lhe nos braços toda a sua juventude e, um dia, saltou-lhe da órbita como um comboio dos carris. Estacionou em outro homem e, disse o meu amigo ciumento, «Deus queira que ainda me queira!»

Disse também que há dias em que não é ciumento, porque é mentiroso; e ainda disse que o ciúme é como uma pilha Duracell; e ainda disse que os homens de ciúme são os que têm tensão baixa; e ainda disse que gosta dela e que reza todos os dias para que o noivo morra de ciúme quando o voltar a ver a rodá-la como o sol faz ao girassol; e ainda disse que daqui a cinco anos a desafiará para fiar outra vida; e ainda disse que ela tem uns olhos azuis como o mar na finisterra; e ainda disse que quando lhe der na veneta, lhe encomendará um anel de noivado e um par de brincos ao Zé Petinga, dourados, feitos das caricas das cervejas que consome no seu ciúme e o comboio voltará à ordem dos carris.

E ainda me disse: « não te estendas, porque já bebeste mais do que as minhas grades de cervejas!»

estrangeiro

O Francisco falou dele. Do Estrangeiro de Caetano Veloso. Lembrei a cassete que fez um Agosto inteiro de comboio. Mas lembro-o a roçar a noite escura, perto da hora de baixar a intensidade da luz das cabines, da hora medonha do abandono num ponto rolante do mundo. Hora do cansaço espesso. Lembro-o particularmente a atravessar a Jugoslávia a caminho da Turquia. Esse álbum ficou na pele e deixou nela a fuligem dos comboios de uma viagem feliz em Agosto.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Sicó Magia

Depois digam que não avisei. Os dados estão lançados. As pombas vestem as melhores penas brancas. Os lenços escolhem as melhores cores. As cartas fecham-se nas caixas. Os mágicos treinam os últimos passos. Nós escolhemos sombra e primeiros balcões em lugares divinos. 85 espectáculos em 65 sítios diferentes, durante 3 dias, simultaneamente em 6 concelhos.
Nos próximos dias 7, 8 e 9 de Setembro, os concelhos de Alvaiázere, Ansião, Condeixa-a-Nova, Penela, Pombal e Soure vão ser palco das JORNADAS MÁGICAS DE SICÓ 1º Festival Internacional de Magia de Rua.
Apareçam como quem vem para jantar a minha casa. Tragam os filhos à única dimensão onde o sorriso é mais determinante que os segredos e venham com eles. Temos mágicos para os lugares certos. A magia de rua é a única arte onde os vossos filhos vos levarão a certos lugares felizes pela motivação do espanto e por uma energia decisiva que lhes começa a crescer nas mãos.
Os territórios culturais constróiem-se, não têm fronteira adquirida. Depois digam que não avisei.

terça-feira, agosto 07, 2007

O vento a dar forte e bonito no verão….


Desatou o vento a bater no verão, a magoa-lo com a areia na pele, a dobrar as canas dos canaviais… furioso, desatou pela estrada fora e depois da curva, apoderou-se possessivo do mar. No Guincho. Nesse bocado do mundo o ventou deixou-se a sós a flirtar o mar, a percorrer a areia, duna a duna, qual corpo deitado de mulher a morrer aos pés da serra. Quase cortou a estrada, expulsou gente morena e corta ventos às riscas e imponente , disse que amar é fazer ondas.

"O bom"

"(...) A infância é um viveiro de prazeres. Como comparar, por exemplo, o orgulho de um pião bem lançado, o volume voluptuoso de uma bola de gude daquelas boas entre os dedos, o cheiro da terra húmida, o cheiro do caderno novo?"

textos leves - numa escrita nada light - para tardes de férias

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serviço educativo










na Torre dos Clérigos mostrar aos pequenos o carrilhão - que há anos o Porto não ouve tocar - e, ao começar a explicar o que é um carrilhão:
- Já vimos, no Corcunda de Notre Dame.

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segunda-feira, agosto 06, 2007

Caminhos do Verão

Acho que agora acordamos para o Verão dispostos como as andorinhas mais velhas, que da Primavera já viram tudo. Se tínhamos plano, cumpra-se! Se não temos, risca-se ainda a aventura:
subir ou descer o país, galgar fronteira, ou dar duas voltas ao espaço de nós próprios com tempo suficiente para ver o que não vemos no dia-a-dia dos dias.
É uma metamorfose. A pele que cai pelo calor e se renova como as folhas. O tempo que ancora tempo. Um relógio aliviado por falta de ponteiros.
Assim, o Verão é às vezes bondoso como uma mãe e quente como um chá. H põe o chapéu azul e desenha memórias na sua sombra junto aos pés. M rouba ao mar dunas de areia escondidas nos livros, entre olhares atentos aos filhotes que se divertem na maré. Ambas têm um sorriso novo. Ambas conheci quando eram andorinhas novas. Quem não anda nesse passo de passar, sabe que nele andamos pela raiz do sorriso, que ganhámos nos sítios onde fomos Verão, andorinha velha.
Lembro-me, por exemplo, de uns olhos que me regressaram felizes, coloridos um dia nos «godés» das tinturarias marroquinas.


domingo, agosto 05, 2007

chapéu azul


Nada houve de particular no dia de hoje. De manhã, enquanto tomava o café forte em frente à portada da varanda aberta, a varanda dos agapantos já secos, antevi o meu chapéu azul. De palha, azul forte e quente. Pousado na cadeira. Nunca usei o chapéu azul. Achei, por dentro, que seria hoje. Que poderia celebrar o começo vagaroso de férias, usando o chapéu. Gosto destas celebrações imperceptíveis ao mundo e que pouco mais são do que pequenos arrojos. Hoje, seria o dia do chapéu azul !

Depois dou comigo a pensar que um dia, uma das minhas filhas, poderia escrever : “ lembro aquela manhã de Agosto, em que a mãe acordou, pôs o chapéu azul e irradiava uma felicidade quente… “.

Nós vivemos para fazer a memória dos filhos. Ás vezes acontece-me viver essa dualidade de viver e tentar a evocação do que vivo. Ás vezes acontece-me perguntar de que memória de mim, de que instantes de mim nelas ficarão? Sabendo que são sempre os mais insuspeitos, hoje achei que seria o chapéu azul. Quase certa. Por isso achei que elas iriam perceber que o arrojo do chapéu azul seria a maneira indizível de dizer: estou inteiramente disponível para a felicidade.

coisas exactas

"A morte não é obrigatoriamente uma coisa má. A velhice é uma coisa má. A morte é a coisa boa que acontece no fim da coisa má que é a velhice. Morrer é preciso. Envelhecer não é preciso."

Luis na Natureza do Mal

sábado, agosto 04, 2007

lestada


são dias raros a norte: a lestada forte e quente de manhã. o mar liso, sem carneirinhos. à hora de almoço o vento desaparece, as bandeiras imóveis, caídas sobre os mastros. o calor do dia a continuar-se pela noite dentro e poder ficar sem casaco numa esplanada ao pé do mar. dias muito, muito, raros.

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férias II


os meus filhos mal conhecem a cidade (e o país) onde nasceram. filhos de pais viciados em sossego, que desleixam os fins-desemana pelos sofás e que, no primeiro dia de férias, rumam céleres a um apartamento junto ao mar (de preferência sempre o mesmo), chegaram aos 9 e aos 6 anos de idade sem nunca terem passeado na Ribeira ou nos Aliados, visitado um museu ou um monumento, sequer saboreado o improviso que só as férias permitem entre amigos e família.

mas neste Agosto tomamos uma atitude: já visitamos um museu a 50 metros de casa (com o nome e o espólio de uma sua antepassada), ontem subimos os 225 degraus da Torre dos Clérigos e passeamos no Jardim Botânico. também saboreamos manhãs (o que nos é absolutamente inédito) de praia com os amigos, reencontrando-os depois ao longo do dia e com eles ficando pela noite fora, entre petiscos, conversas e risos de crianças.

esperam-nos ainda o Museu do Carro Eléctrico, o Planetário, algumas festas de anos, o Castelo de Guimarães, os amigos no Alentejo, o Oceanário, o Jardim Zoológico, os pastéis de Belém, Sintra e as praias a sul.

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férias I


este ano quase sem ter de fazer malas de livros. deixá-los à cabeceira, metê-los no saco da praia ou na mochila dos passeios, saboreá-los da mesa do pequeno-almoço até à noite na varanda. trazê-los cheios de areia entre as páginas, um tudo-nada amassados, lidos e relidos. arrebanhar ainda mais um numa saída, como quem compra um recuerdo ou artesanato local.

férias, portanto.

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Horário de trabalho

© Serra de Sicó, 2007

Estive até agora em trabalho lento como este quente tempo. Sou dos da sorte de ter trabalho fixo sem horário fixo. Passei o dia em kilómetros de carro a fotografar sítios possíveis para as jornadas de magia de rua de Sicó, a realizar em Setembro e, pelo calor, passei por uma ou outra taberna, fontes de circunstância e locais de aprendizagem dos saberes. As pessoas que nos vão conhecendo pela serra sabem quem somos, não sabem muitas vezes que fazemos um pouco de tudo. Verem-me de máquina fotográfica lá vão dizendo:
- «Lá andam aqueles gajos a passear o erário público!» - e nem sabem que disso não vivemos.
Não saberão também nunca que o «gajo» que ia comigo recebeu um telefonema ao fim do esforço a dizer que lhe morreu um familiar. Amanhã há funeral. E eu dediquei-lhe o último disparo para o céu. Força Ruizito.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Stalinismo socrático?

Tenho por experiência de trabalho, defendido, que a museologia deve pertencer aos territórios onde se insere e, modelo de gestão, ser participada com direito de opinião pelas suas populações e instituições livres e democráticas que nesse terreno as representam.

No pós 25 de Abril, as iniciativas museológicas de matriz municipal, entre outras de iniciativa territorial, são verdadeiros exemplos da boa gestão de recursos humanos e financeiros, tendo na sua rosa-dos-ventos as setas preservação e qualidade. Ou outros, pedras parideiras do Terreiro do Paço desde o antigo regime, são asilos apenas.

Este Portugal centralista de museu, usa e abusa do património. Extorque-lhe a receita como questor romano e decide arbitrariamente sobre a sua gestão e as suas gentes como uma prostituta decide dos seus clientes.

Dalila Rodrigues foi assim afastada da Direcção do Museu Nacional de Arte Antiga. Nem a conheço, ouvi pela comunicação social. Vi-a, sensível mas firme, na SIC Notícias com um olhar que só nasce nos olhos de quem tem tarefa cumprida. A Ministra escondeu-se na praia e mandou dizer pelo mandador do Instituto dos Museus e Conservação, Manuel Bairrão Oleiro – pelo nome, pés de barro! – que tinha acabado a sua comissão de serviço. O putativo sucessor já tem nome. Não o digo para não o envergonhar. É, vindo do Museu Nacional do Azulejo, mais um ladrilho do regime, coisas que não aconteciam com Carrilho.

Começando a avolumarem-se casos desta jaez, onde anda e o que pensa Josef Sócrates Stalin?

quarta-feira, agosto 01, 2007

Horário de vida em Zamora

Da fronteira terrestre para oriente, há logo ali planície, hoje um imenso amarelo de fundo, novelos de palha ordenados como ordenada é a política agrícola vizinha. Na noite, há uma hora mais tarde para a vida divertirmos. Na manhã, uma hora mais cedo para que o trabalho se cumpra com o rigor dos tempos. A tarde, um sopro quente, arrastando-nos como cobras no intenso calor entre “siesta” ou os bares de “tapas”. Um pouco de tudo cumpri e mais amigos e mais de 800 Km bem batidos.

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